Mauricio Lissovsky | 7.jan.2017
Foi no primeiro dia útil do ano, 2 de janeiro, em Paris, aos 91 anos de idade. Dia útil por que? Dia útil para quê? Para se contar uma história ‒ essa provavelmente seria sua resposta ‒, pois toda história começa pelo fim (ou porque há um fim). E o fim é sempre alguém que morre, pois “precisamos dos mortos para reconhecer a nós mesmos”. Em um diálogo memorável com, Susan Sontag , ambos concordam que “a morte de alguém”, de fato, “é sempre pretexto para se contar uma história.”
Leia Mais Ronaldo Entler | 18.jul.2016
Precisamos de muito pouco para ver um rosto. Rapidamente, dois pontos num espaço vazio tornam-se olhos. Quantas vezes, rabiscando à toa num pedaço de papel, essa forma nos apareceu quase que por conta própria?
Leia Mais Ronaldo Entler | 18.ago.2015
O sucesso de um livro é normalmente medido pelo número de edições que alcança. Mas esse raciocínio não vale para A ilusão especular, de Arlindo Machado, publicado em 1984 numa parceria entre a editora Brasiliense e o Instituto Nacional de Fotografia da Funarte. Esgotado há décadas, sabemos que as universidades brasileiras nunca deixaram de incluir esse título na bibliografia de seus cursos de comunicação e artes, e o texto permanece citado de modo recorrente nas dissertações e teses dedicadas à fotografia. Somente agora, três décadas depois de seu lançamento, A
Leia Mais Ronaldo Entler | 16.dez.2014
Muitas vezes ficamos tentados a comparar os pensamentos de Benjamin e Barthes sobre a fotografia*. Uma primeira identificação entre eles está na força poética de seus textos, com passagens tão bem resolvidas em suas formas quanto inesgotáveis em seus sentidos. A pequena história da fotografia (Benjamin, 1931) e A câmara clara (Barthes, 1980) transitam entre a crônica e a teoria, porque suas análises se constroem a partir de vivências muito rentes às imagens que discutem. Num artigo chamado “A câmara clara: outra pequena história da fotografia” (2008), Geoffrey Batchen observa que ambos os
Leia Mais Pio Figueiroa | 7.abr.2014
O Icônica é um lugar que fomenta o meu discurso. De certa forma, uma foto que carrego no bolso e me ajuda a achar sentidos nas coisas que procuro – e me são caros os achados. Aqui, um céu torna-se possível: os espaços vazios da minha pesquisa se veem provocados quando não preenchidos pelo que esta constelação ilumina. Pensando em um primeiro post, escrevi um pouco sobre um estado recente em que tenho vivido. Sinto-me assim em uma espécie de fotografia, com a vida provisoriamente suspensa e dispersa em uma
Leia Mais Ronaldo Entler | 14.maio.2013
A fotografia foi considerada uma forma menor de expressão porque, supostamente, limitava-se a coletar do mundo, por meio de um gesto mecânico, fragmentos de formas prontas e já resolvidas em seus sentidos. Em resposta, a afirmação da fotografia como arte exigiu reduzir a realidade a um estado de matéria-prima insignificante, disponível para a manipulação do fotógrafo e para a projeção de sentidos que lhe são totalmente subjetivos. Se essas posições extremas nos deixam uma lição, é a necessidade de enxergar o processo de criação como algo que concilia invenção e
Leia Mais Ronaldo Entler | 24.set.2012
Viagens no tempo aparecem de forma recorrente na obra do fotógrafo e cineasta Chris Marker, a exemplo do que vemos em seus trabalhos mais conhecidos, o “foto-romance” La Jetée (1962) e, mais sutilmente, em Sans Soleil (1983). Viajar no tempo é algo que ele mesmo faz na relação que estabelece com seus arquivos. Desde seus primeiros trabalhos, ele assume transitar por um terreno instável: os sentidos das imagens. E faz delas o palco em que a história contracena com o presente. Dessas experiências, podemos tirar algumas lições: 1. as imagens
Leia Mais Mauricio Lissovsky | 30.abr.2012
Por quais caminhos uma nova “pequena história” da fotografia poderia nos levar – uma história que começasse a ser escrita de olho nas imagens que Walter Benjamin jamais viu? Quando o filósofo redigiu seu ensaio, em 1931, considerava que os primeiros cem anos da fotografia haviam sido marcados por um debate teórico, sob todos os aspectos, infrutífero, uma vez que comungavam os debatedores de um conceito de arte “alheio a qualquer consideração técnica”. Ao longo dos seus primeiros cem anos, e apesar de seu desenvolvimento acelerado, a fotografia havia persistido
Leia Mais Mauricio Lissovsky | 6.fev.2012
A história é bem conhecida. Em 1867, Dostoiévski visitava o museu da Basiléia, na Suiça, em companhia de sua mais recente esposa, Anna Snitkina, estenógrafa que havia colaborado com ele em “O Jogador”. Diante de uma pintura de Holbein, o Jovem, ele congelou, sem conseguir desviar os olhos. No rosto do escritor, a mesma expressão, mistura de êxtase e pânico, que costumava ter na iminência de um ataque epilético. No quadro do museu, Cristo, em tamanho natural, deitado em sua tumba.
Leia Mais Ronaldo Entler | 30.jan.2012
Nestas férias, li Diário de Luto, de Roland Barthes, editado recentemente em português, com tradução de Leyla Perrone-Moisés. É um conjunto de pequenas anotações iniciadas em outubro de 1977, um dia após o falecimento de sua mãe, e que se estendem até setembro de 1979, seis meses antes de sua própria morte. No meio disso, entre 15 de abril e 3 de junho de 1979, ele escreveu A câmara clara. Etienne Samain já havia observado que esse livro, que tem 48 capítulos, foi escrito em exatos 48 dias, possivelmente, também sob
Leia Mais Ronaldo Entler | 12.dez.2011
Eu procurava na internet informações sobre alguns textos, quando encontrei um blog – sem atualizações e provavelmente não oficial – de divulgação do livro de Arlindo Machado, “O sujeito na tela” (2007). Estranhei o retrato publicado ao lado de sua biografia. Mas a idade faz essas coisas: de um lado, enfraquece nossas lembranças e, de outro, muda a aparência das pessoas. Quase assimilei sua nova fisionomia. Depois, descobri que se tratava do crítico e cineasta alemão Alexander Kluge, que Machado conhece bem e sobre quem já escreveu. Além de alguma
Leia Mais Cláudia Linhares Sanz | 28.nov.2011
Às vezes uma fotografia nasce pela força de futuro, outras vezes pela insistência do presente: existo, existo, existo – resisto. Há, no entanto, fotografias que surgem porque o que já não existe persiste como fantasma, do mesmo modo que a estrela que, separada pelos milhões de anos luz – só encontra sua imagem quando já silenciada. A estrela sobrevive na imagem graças ao impulso de um passado que deseja viver no futuro e que pressiona em direção a ele. Ela, no entanto, só pode ser vista (e existir) por um
Leia Mais Mauricio Lissovsky | 14.nov.2011
Por meio do duplo a fotografia interroga-se sobre sua história e a respeito do papel que lhe cabe no mundo. Uma das formas recorrentes do duplo fotográfico é colocar em cena as relações entre a fotografia e outros modos de aparecer das imagens. Em 15/02/1937, a página 9 da revista Life estampou uma das fotos mais famosas de Margaret Bourke-White: diante de um outdoor onde a família branca sorridente viaja de férias em seu carro, uma fila de homens e mulheres negros, refugiados das enchentes em Louisville (naquele ano, as
Leia Mais Cláudia Linhares Sanz | 24.out.2011
Ano passado as cigarras cantaram durante semanas para anunciar a chuva. Sempre ouvi dizer que elas anunciavam dias ensolarados, mas aqui no cerrado não. Quando seu canto ensurdece a tarde é porque a seca está finalmente cedendo. Nos dias cantantes das cigarras, a seca parece ainda mais intensa e dura tanto quanto as dobras dos vestuários no início da fotografia de Walter Benjamin (quando vivíamos não ao sabor do instante, mas dentro dele, crescendo dentro da imagem).
Leia Mais Ronaldo Entler | 26.set.2011
A atividade do olhar é normalmente entendida como captação discreta e passiva dos movimentos do mundo. Mas o próprio olhar é movimento, como diz Alfredo Bosi, “com propriedades dinâmicas de energia e calor graças a seu enraizamento nos afetos e na vontade” (“Fenomenologia do Olhar”, 1988. p. 77). Alguns artistas buscam reconhecer os momentos em que o olhar revela sua espessura, em que se torna por si mesmo uma performance, gesto que afeta também aquilo que é visto. Quando o olhar se torna visível, seus vetores compõem um enredo: o
Leia Mais Mauricio Lissovsky | 13.set.2011
Há este carte de visite do Imperador do Brasil e seu duplo, feito por Carneiro & Gaspar, em 1867. Nele, Dom Pedro II, aficionado e colecionador tenaz de fotografias, apesar da sobriedade da expressão, empresta sua real figura a uma anedota. O grande interesse de Sua Majestade pela técnica fotográfica pode tê-lo motivado a submeter-se a este “experimento” (na mesma ocasião, também foi feita imagem similar da Imperatriz Teresa Cristina), mas é impossível deixar de associar esta imagem à tradição taumatúrgica do caráter duplo do corpo do Rei: um corpo
Leia Mais Ronaldo Entler | 5.set.2011
Onde a revolução digital não aconteceu Há vinte anos, especulávamos sobre os impactos das câmeras digitais que estavam para chegar ao mercado, tentávamos entender a mudanças no estatuto das imagens que elas produziriam, e prevíamos uma crise em sua credibilidade pelas facilidades de manipulação. Autores como André Rouillé sugerem que estamos diante de uma imagem de natureza tão distinta, que é um equívoco chamá-la ainda de fotografia (A fotografia, p. 16 e 452). Na prática, creio que essa mudança na forma de inscrição da imagem tenha desdobrado em promessas e ameaças
Leia Mais Cláudia Linhares Sanz | 29.ago.2011
Imagine que você tenha tido um encontro amoroso numa festa, talvez num bar. Noite alta, vocês já juntos, teriam pedido ao garçom uma fotografia pelo celular. Em meio aos afazeres, a bandeja de lado. Entre vocês e aquele homem, uma eternidade. Entre a ação do dedo e a pausa, um silêncio instantâneo. Segurando o celular, o homem pensou no cansaço, no patrão, nas contas a pagar. Lembrou da mulher, da vizinha gostosa, da batata frita pedida pela mesa ao lado, do chope do cliente mal-educado esquentando no balcão (por que
Leia Mais Mauricio Lissovsky | 8.ago.2011
Há esta fotografia, de Adenor Gondim. Está em seu blog, chamado “Apenas Bahia. Apenas Fotografia”. Em um “Café Fotográfico” que compartilhamos, em Salvador, em 07/06/2011, convidados pelo José Mamede, contou-nos sua história. Procurava um fundo para fotografar os santinhos que havia comprado para presentear o filho, mas nada o satisfazia. Percebeu, jogada em um canto, esse retrato feito em Bom Jesus da Lapa. Os santinhos encontraram aí, finalmente, o seu lugar.
Leia Mais Rubens Fernandes Junior | 30.maio.2011
A fotografia, ainda hoje, tem um poder de atração inexplicável. Nem sempre sabemos racionalizar aquilo que nos leva a destacar uma boa imagem entre milhares que vemos semanalmente. Na verdade, pretendo aqui refletir sobre uma fotografia que recentemente circulou pela mídia internacional mostrando a equipe de segurança norte-americana, capitaneada pelo presidente Barack Obama e seu vice, Joe Biden, que acompanhava a operação dos Seals, no Paquistão, que culminou com a morte de Bin Laden. De autoria de Pete Souza, chefe oficial de fotografia da Casa Branca, e distribuída pelo The New
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