Tema: Teoria > Teorias da Fotografia

A Ilusão Especular, de A. MAchado; O Ato Fotográfico, de Ph. Dubois; A Imagem Precária, de J.-M. Schaeffer
Aparentemente, a vocação mais natural de toda teoria é definir “o que é” seu objeto de análise. Nossos debates acadêmicos se consolidaram colocando uma questão dessa ordem: o que define a especificidade da fotografia? Chamamos essa perspectiva teórica de “ontológica”.  Ontologia é, em resumo, o campo da filosofia que se pergunta sobre o “ser das coisas” ou, para dizer mais facilmente, “o que as coisas são, em sua essência” (a ontologia clássica fala em “substância”). Perguntar-se sobre o “ser” da fotografia é buscar aquilo que lhe concede uma identidade singular,Leia Mais
D. Rosa, arquivo pessoal.
Fiquei pensando muito no que leva alguém a rasgar fotografias, como aconteceu com as imagens que Rubens Fernandes encontrou e acolheu em sua coleção (quem chegou agora, tem que ler o post anterior). Uma maneira de responder seria pensar às avessas o que leva alguém a produzir imagens. Arbitrariamente, pensei em três possibilidades ligadas ao que poderíamos chamar de “pensamento mágico”, “pensamento simbólico” e “pensamento burocrático”. Em cada um deles, e sucessivamente, existe um nível menor de vinculo entre a representação e o mundo, portanto, também um nível menor deLeia Mais
Na minha pesquisa de pós-doc, discuti os trabalhos de Christian Boltanski e Sophie Calle a partir da seguinte hipótese: muitas vezes, a fotografia seduz não tanto pelo que ela mostra, mas pelo que esconde, pela história que  supomos existir e que ela não é capaz de contar. Essa pesquisa virou um artigo, mas não foi oportuno contar ali uma das origens dessa intuição. Esses dias, uma ex-aluna me escreveu pedindo para relembrar o episódio. Decidi compartilhar. Em 2000, caminhando na região da Av. Paulista, eu achei uma carta escrita aLeia Mais

Quando a verdade não importa

Ronaldo Entler | 21.nov.2010

Por causa de uma reportagem sobre a autobiografia de Robert Capa, retornei às suas imagens e me detive sobre a polêmica fotografia do miliciano, na Guerra Civil Espanhola. Senti quando o beijo de Doisneau foi desmascarado, e torci para que a tese da encenação na foto de Capa fosse apenas especulação. Mas os céticos – para quem realidade e fotografia são coisas sempre avessas – tinham razão, e nos olharam com um ar de “eu avisei!”. Por vocação ou por obrigação, quase todos nós aprendemos a desconfiar das imagens. DominamosLeia Mais
É natural que idéias sejam deturpadas por quem as menospreza, mas o conceito de virtual foi às vezes mutilado pelo fogo amigo: é o fato de estar na moda que dificulta sua compreensão. Temos chamado de virtual tudo aquilo que está associado às novas tecnologias, sobretudo às redes. Construímos assim a impressão de que esta palavra surge para dar conta de uma novidade. Mas é preciso saber que estamos diante de uma noção que é, pelo menos, uns vinte e cinco séculos mais velha que os computadores.Leia Mais

A fotografia segundo Jesus Cristo

Ronaldo Entler | 7.set.2010

Nesse fim de semana, tivemos o Intercom em Caixas do Sul. Houve algumas ausências,  como Fernando de Tacca, Cláudia Linhares e meu parceiro Rubens Fernandes Junior. Em compensação, chegaram novos integrantes, como Eduardo Queiroga e Lívia Aquino. O trabalho que apresentei nasceu de um post para o Icônica, que nunca foi publicado porque ficou grande (e talvez estranho) demais. Aí vai um resumo: Acheiropoiesis: sobrevivência do valor de culto na imagem técnica O cristianismo passou séculos discutindo se era ou não legítimo representar Deus por meio da imagem. Dentre toda aLeia Mais

Invisibilidades, recalques e revelações

Ronaldo Entler | 29.ago.2010

Na semana passada, tivemos no Senac Consolação o evento Estética do (In)visível, com a presença de Evgen Bavcar. Ele realizou uma palestra e integrou a exposição do projeto Alfabetização Visual, coordenado por João Kulcsár, que envolve deficientes visuais num trabalho de arte-educação com fotografia. Participei também da programação num debate com Fernando Fogliano. A provocação era falar do “invisível na fotografia”,  aí vai (mais ou menos) o que foi a minha fala. O acaso como espaço de descoberta de um olhar descentralizado A fotografia está marcada por um potencial comLeia Mais
Depositamos sobre a fotografia uma confiança exagerada. Como resposta, muitas teorias se voltaram contra antigos conceitos que pareciam impedir uma visão mais crítica sobre o meio. Mas, afirmada tal consciência sobre os limites da fotografia, é possível fazer as pazes com um vocabulário que, usado de modo mais preciso, pode nos ser novamente úteis. Recolocamos outros quatro conceitos: analogia, mimesis, verossimilhança e objetividade.Leia Mais
Sabemos que, desde sua invenção, recaiu sobre a fotografia uma confiança exagerada. A ideia de que ali havia uma reprodução fiel da realidade garantiu sua imediata aceitação como instrumento de memória e documentação, no entanto, atrapalhou seu reconhecimento como arte. Nos últimos 30, talvez 40 anos, muitas teorias se empenharam em desconstruir essa confiança, denunciando as bases ingênuas que legitimavam muitos dos usos da fotografia.Leia Mais

O que é fotográfico na fotografia?

Rubens Fernandes Junior | 24.maio.2010

[Publicado no Sabático, do jornal O Estado de São Paulo, em 17 de abril de 2010] Mesmo que tardia, a publicação do livro Estética da Fotografia – Perda e Permanência (1998), de François Soulages (Senac, 384 págs., R$ 75,00, tradução de Iraci D. Poleti e Regina Salgado Campos), é contribuição extraordinária para aqueles que se dedicam à pesquisa e à reflexão da fotografia no Brasil. O principal objetivo do autor, foi, independentemente do gênero – retrato, paisagem, fotografia de reportagem, nu, entre outros –, dar relevância tanto ao processo deLeia Mais
É sempre perigoso falar em evolução quando estamos no território da arte. No que diz respeito aos estilos, não é nada correto dizer, por exemplo, que a arte renascentista superou a arte românica medieval, ou que a pintura neoclássica superou a pintura barroca, mesmo que umas tenham sucedido as outras em termos de cronologia. Não podemos pensar a cultura em termos de funcionalidade, portanto, não se trata de dizer um estilo se torna melhor ou mais eficiente que outro. As estratégias da arte dialogam com valores, hábitos, crenças, pensamentos deLeia Mais

A fotografia e a gravidade

Ronaldo Entler | 7.fev.2010

Em algum momento de nossa história, a fotografia foi assimilada de tal modo que tanto suas imagens quanto suas dinâmicas de produção parecem ter se naturalizado. Isso significa que lidamos com ela da mesma forma com que lidamos com a gravidade: ela está dada, ela é como deve ser, e participa de nossas vidas de modo fluido, sem que precisemos nos perguntar como funciona. Seria incrível (se não durasse séculos) viver esse momento em que uma tecnologia nasce e se difunde, algo que poderia ser lúdico como caminhar na luaLeia Mais

Imagem, morte e tempo

Ronaldo Entler | 21.dez.2009

Nesta última sexta-feira, faleceu Godelieve, esposa do professor e amigo Etienne Samain. Pouco antes do velório, Etienne apareceu com uma câmera e me pediu para fazer algumas fotos da cerimônia que aconteceria. Fiquei desconcertado, não consegui entender imediatamente o porquê dessas fotografias. Mas logo lembrei de uma de suas aulas numa disciplina que dividimos na Unicamp, em que ele analisa um álbum com 19 fotografias do enterro do avô de Godelieve, feitas em 1957, na Bélgica. Sem dúvida, a morte e seus rituais interessam a um antropólogo. Mesmo quando elaLeia Mais

A fotografia e o pensamento selvagem

Ronaldo Entler | 6.nov.2009

O pensamento selvagem foi o primeiro livro de Levi-Strauss que li. E está entre aqueles poucos que nunca mais parei de ler. Tive também a sorte de ter um bom professor, Etienne Samain, que me ensinou quase tudo que eu sei sobre antropologia. Foi ele quem me explicou o grande salto que representava abandonar a idéia de uma “mente primitiva” para propor a existência de um “pensamento selvagem”. Chegarei lá, mas antecipo que tive a sensação de encontrar nesse livro algo que quase define a fotografia, pelo menos, uma certaLeia Mais

Miséria editorial

Ronaldo Entler | 29.out.2009

Dizem que Giovanni Pico della Mirandola, um erudito do século XV, orgulhava-se de ter lido aos 30 anos de idade todas as obras escritas e disponíveis em sua época. Isso só era possível, claro, porque a recente descoberta de Gutenberg ainda não tinha produzido seus efeitos. Com o mercado editorial produzindo mais do que nunca, quem poderia dizer algo parecido hoje? Talvez um jovem pesquisador da fotografia possa fazer uma visita à melhor livraria de sua cidade e, depois de algumas semanas, dizer que leu todos os ensaios disponíveis sobre oLeia Mais

25 anos de A ILUSÃO ESPECULAR

Rubens Fernandes Junior | 27.out.2009

O Brasil não gosta de efemérides. Muito menos de discutir mecanismos de preservação e conservação de informações que pertencem à nossa história. Ou até mesmo as reedições são raras em nossa história do livro, particularmente do livro de fotografia. Acreditamos até o último momento que alguma editora pudesse fazer uma nova edição deste clássico da fotografia brasileira. O livro A Ilusão Especular – Introdução à Fotografia, de Arlindo Machado,  foi publicado em 1984, graças a uma ação conjunta entre a Editora Brasiliense e o Instituto Nacional da Fotografia/Funarte, e aoLeia Mais

A fotografia e o diagnóstico do espírito

Ronaldo Entler | 26.out.2009

O caderno Mais da Folha de S. Paulo trouxe neste domingo um belo artigo de Moacyr Scliar, “A cara do mal” , sobre o médico Cesare Lombroso, professor da Universidade de Turim cujo centenário de morte foi comemorado agora em outubro.  Lombroso dedicou sua vida à hipótese de que certos aspectos do comportamento criminoso são congênitos. Ou seja, em alguma medida, bandido nasce bandido. O texto está disponível apenas para assinantes do UOL na edição on-line da Folha: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs2510200907.htm. Apesar das ótimas referências que traz, Scliar não menciona um aspectoLeia Mais