Tema: Teoria

Morreu John Berger

Mauricio Lissovsky | 7.jan.2017

Foi no primeiro dia útil do ano, 2 de janeiro, em Paris, aos 91 anos de idade. Dia útil por que? Dia útil para quê? Para se contar uma história ‒ essa provavelmente seria sua resposta ‒, pois toda história começa pelo fim (ou porque há um fim). E o fim é sempre alguém que morre, pois “precisamos dos mortos para reconhecer a nós mesmos”.  Em um diálogo memorável com, Susan Sontag , ambos concordam que “a morte de alguém”, de fato, “é sempre pretexto para se contar uma história.”Leia Mais

:-) Rostos

Ronaldo Entler | 18.jul.2016

Precisamos de muito pouco para ver um rosto. Rapidamente, dois pontos num espaço vazio tornam-se olhos. Quantas vezes, rabiscando à toa num pedaço de papel, essa forma nos apareceu quase que por conta própria?Leia Mais

Umberto Eco, a internet e o ornitorrinco

Ronaldo Entler | 20.fev.2016

Neste artigo de 1996, Umberto Eco relata a experiência de procurar a palavra platypus (ornitorrinco) numa ferramenta de busca na internet. Som humor, ele toma esse animal estranho como uma metáfora do corpo de pensamentos fragmentados que as redes já construíam. Chamem-no Platypus ou Ornitorrinco, o fato é que ele é muito popular por Umberto Eco  [1] Sou um sincero admirador do ornitorrinco (ou platypus), talvez porque tive a oportunidade de vê-lo ao vivo na Austrália, mas também porque ele parece ter sido criado por Deus ou pela Natureza para pôr em questão nosso aparatoLeia Mais
O sucesso de um livro é normalmente medido pelo número de edições que alcança. Mas esse raciocínio não vale para A ilusão especular, de Arlindo Machado, publicado em 1984 numa parceria entre a editora Brasiliense e o Instituto Nacional de Fotografia da Funarte. Esgotado há décadas, sabemos que as universidades brasileiras nunca deixaram de incluir esse título na bibliografia de seus cursos de comunicação e artes, e o texto permanece citado de modo recorrente nas dissertações e teses dedicadas à fotografia. Somente agora, três décadas depois de seu lançamento, ALeia Mais

Benjamin, Barthes. Aura, Punctum.

Ronaldo Entler | 16.dez.2014

Muitas vezes ficamos tentados a comparar os pensamentos de Benjamin e Barthes sobre a fotografia*. Uma primeira identificação entre eles está na força poética de seus textos, com passagens tão bem resolvidas em suas formas quanto inesgotáveis em seus sentidos. A pequena história da fotografia (Benjamin, 1931) e A câmara clara (Barthes, 1980) transitam entre a crônica e a teoria, porque suas análises se constroem a partir de vivências muito rentes às imagens que discutem. Num artigo chamado “A câmara clara: outra pequena história da fotografia” (2008), Geoffrey Batchen observa que ambos osLeia Mais

O selfie de Derrida

Ronaldo Entler | 19.maio.2014

Numa tentativa – tardia e difícil – de aproximação ao pensamento de Jacques Derrida, encontrei este documentário em que o filósofo franco-argelino fala de sua relação com a fotografia: ele justifica porque, até certo momento de sua vida, não permitia a divulgação de sua imagem. Derrida, 2002. Documentário dirigido Kirby Dick e Amy Ziering [documentário integral disponível no You Tube] Nesse fragmento, ele explica que aquilo que escreve a respeito da literatura propõe “conduzir à desfetichização do autor, principalmente, do autor tal e qual ele aparece nos códigos de umaLeia Mais

A escola e a fábula da câmera total

Cláudia Linhares Sanz | 15.abr.2014

Há alguns dias, uma aluna contou em sala, na Universidade de Brasília, uma sequência de fatos recentes ocorridos na turma em que é professora, segunda série do ensino fundamental, numa escola pública do Plano Piloto do Distrito Federal. Seu depoimento gerou um debate interessante acerca das imagens que nos são sincrônicas no regime de visibilidade contemporâneo e sua relação com a escola; debate daqueles que nos fazem ficar um bom tempo refletindo sobre eles. Meses; às vezes anos. Pois bem, um furto deu início aos eventos. O dinheiro da carteiraLeia Mais

Em pleno salto

Pio Figueiroa | 7.abr.2014

O Icônica é um lugar que fomenta o meu discurso. De certa forma, uma foto que carrego no bolso e me ajuda a achar sentidos nas coisas que procuro – e me são caros os achados. Aqui, um céu torna-se possível: os espaços vazios da minha pesquisa se veem provocados quando não preenchidos pelo que esta constelação ilumina. Pensando em um primeiro post, escrevi um pouco sobre um estado recente em que tenho vivido. Sinto-me assim em uma espécie de fotografia, com a vida provisoriamente suspensa e dispersa em umaLeia Mais

O fantasma de Baudelaire

Ronaldo Entler | 11.dez.2013

Há algumas semanas, foi divulgado um retrato feito no século XIX de um certo Sr. Arnauldet, e que deixa aparecer ao fundo um intruso que foi identificado como sendo Baudelaire. Foi Serge Plantureux, marchand de fotografias de Paris, quem adquiriu essa imagem e, a partir de alguns dados levantados na Biblioteca Nacional da França, convenceu-se de que eram grandes as chances de se tratar mesmo daquele poeta. O modo hesitante como espia a performance do fotógrafo e do fotografado denuncia sua consciência de estar onde não deveria. Resta um corpoLeia Mais

Fotografia e metalinguagem

Rubens Fernandes Junior | 23.out.2013

Tenho muita curiosidade pelas fotografias que remetem à própria fotografia. Dedico uma atenção especial a essas imagens que coleto aleatoriamente em sebos e outros espaços e que reúnem dados que alguém julgou sem importância. Mas sempre busco questionar a fotografia que fala dela mesmo. Quais critérios estabelecer para buscar na imagem alguma “centelha do acaso” que remeta à própria fotografia? Os limites que demarcam essas possibilidades geralmente são nebulosos e quase sempre subjetivos. Mesmo assim, venho colecionando fotografias que de alguma forma “falam” da própria fotografia. Em seu importante estudoLeia Mais

Ver é inquietar-se

Rubens Fernandes Junior | 23.set.2013

Num momento em que a visibilidade e a transparência da comunicação determinam o quanto somos reconhecidos nos diferentes grupos em que atuamos, não deixa de ser interessante pensar no velho cartão postal como uma mídia aberta, com imagem e texto, que circulou livremente durante décadas mundo afora. Hoje, foi substituído pelos aplicativos tipo Instagram, WhatsApp, entre outros, locais de livre e imediata circulação de imagens e textos. Sou colecionador de cartões postais e, de tempos em tempos, eu me surpreendo com mensagens inscritas no verso dos cartões, que operam comoLeia Mais
Existe hoje um claro esforço para repensar as representações tradicionais do Nordeste. Uma alternativa tem sido investir na ampliação de temas e formas de abordagem de seus personagens e de suas paisagens. Outra, é revisitar os modelos históricos de construção da imagem para expor seus limites. Se olharmos para os registros que ilustram o estudo feito por Roquette Pinto, no inicio do século XX, encontramos os “tipos brasileiros” – dentre eles, o do sertanejo – fotografados segundo o método de catalogação criminal do francês Alphonse Bertillon, que se tornou recorrente nosLeia Mais
Como já discutimos largamente, os discursos e as análises acerca das imagens e, sobretudo, das imagens fotográficas, que caracterizaram o campo teórico até a década de 1980 já não parecem encontrar tanta ressonância na realidade do mundo contemporâneo. As investigações que, como sabemos, desejavam saber o que a fotografia era em si, pensar a fotografia contra o cinema, identificar o irredutível fotográfico, não parecem fazer tanto sentido diante dos processos atuais de produção, difusão e recepção de imagens. Com efeito, as investigações acerca das relações transversais entre as imagens, asLeia Mais

Demasiado*

Ronaldo Entler | 3.jul.2013

[*texto para a exposição “Demasiado”, de Ricardo Barcellos, com três trabalhos mostrados simultaneamente na Galeria Central, até 03/08/13, e o Espaço Fidalga, até 06/07/2013] Houve um tempo em que o homem enxergava o mundo como um conjunto de forças caóticas e violentas que ameaçavam sua própria existência. Sem poder dominá-las, ele encontrava a possibilidade de experimentar um prazer extremo abandonando-se às desmesuras dos rituais dedicados ao deus Dionísio. Essas forças precisaram ser constrangidas pela boa medida das formas impostas por Apolo, para que o processo civilizatório se constituísse e paraLeia Mais
A fotografia foi considerada uma forma menor de expressão porque, supostamente, limitava-se a coletar do mundo, por meio de um gesto mecânico, fragmentos de formas prontas e já resolvidas em seus sentidos. Em resposta, a afirmação da fotografia como arte exigiu reduzir a realidade a um estado de matéria-prima insignificante, disponível para a manipulação do fotógrafo e para a projeção de sentidos que lhe são totalmente subjetivos. Se essas posições extremas nos deixam uma lição, é a necessidade de enxergar o processo de criação como algo que concilia invenção eLeia Mais

Imagens animadas pelas sombras*

Ronaldo Entler | 15.abr.2013

Esquecemos o quanto, um dia, a caverna foi acolhedora. Escura, ela era misteriosa e convidativa, assim como a paisagem fora dela que, mesmo iluminada pela luz do dia, não se revelava por completo. Se era preciso percorrer longas distâncias para buscar meios de sobrevivência, era necessário reencontrar a caverna, pelo teto que ela oferecia, mas também pelas paredes: com as imagens que nelas se desenhavam os homens construíam seus rituais e negociavam com a natureza aquilo que sua luz não permitia enxergar. Tanto na claridade quanto na penumbra, pelo ladoLeia Mais

A crueldade que reivindica o fantasma da fotografia*

Cláudia Linhares Sanz | 8.abr.2013

Da série de fatos inexplicáveis que são o universo ou o tempo acrescentaria a fotografia. Uma espécie gabinete mágico, a espera de que algo aconteça para, enfim, revelar-se. Sua sobrevivência histórica é ainda mais enigmática. Hoje? Entre tantas tecnologias inovadoras, entre tantos hibridismos imagéticos: como poderia a fotografia não ter sido totalmente tragada pelas famílias de imagens que não cessam de se multiplicar e fundir-se? Sua persistência é, provavelmente, acontecimento que ninguém poderia pressentir. A despeito dos prognósticos mais acurados de teóricos e pensadores da mais alta qualidade, que avistavamLeia Mais

Referências cruzadas – outras luzes

Rubens Fernandes Junior | 2.abr.2013

Inúmeras vezes declarei meu desejo de publicar uma história da fotografia a partir de imagens que venho colecionando há anos. Minha impressão é de que centenas (ou seriam milhares?) de fotografias vagam dispersas pelo mundo do acaso e clamam para serem reunidas de outra maneira, a fim de nos oferecer um outro olhar sobre o documento fotográfico. Como pesquisador atento, vibro com cada imagem que salta expressiva de um álbum familiar ou até mesmo de um conjunto aleatório reunido numa velha caixa de sapatos. Acredito que os arquivos institucionalizados sãoLeia Mais
Michael Ruetz ficou conhecido pelas imagens das marchas triunfais da Oposição Extraparlamentar Alemã – APO e das manifestações no campus da Universidade Livre de Berlim após o assassinato do jovem Benno Ohnesorg, em 1969. Documentou também a invasão da Tchecoeslováquia pelas tropas soviéticas e, como enviado da revista alemã Stern, cobriu a ditadura militar na Grécia. Mais tarde, fotografou a vitória de Salvador Allende no Chile, a guerra em Guiné-Bissau e vários outros eventos internacionais. Seu trabalho pode provavelmente ser comparado ao de muitos fotojornalistas que testemunharam a amplitude, aLeia Mais

Realegorizações da caverna

Ronaldo Entler | 13.nov.2012

  Este texto norteou a conversa com Pio Figueiroa (texto disponível no site da Cia de Foto), no Espaço Veredas, sobre a exposição A Espessura da Travessia. Ali, foram reunidos trabalhos de um grupo de alunos da Pós-Graduação em Fotografia da Faap, realizados a partir da leitura de textos de Platão. As leituras foram conduzidas pela professora a Edilamar Galvão.   Platão, criador de imagens Como supor que seria possível encontrar em Platão um convite à  fotografia. Justo ele que tem fornecido, ainda hoje, duros argumentos contra a produção de imagens.Leia Mais