Mauricio Lissovsky | 13.jul.2016
Isso foi no “tempo do Raj” – no tempo do vice-rei que representava o domínio imperial britânico sobre a Índia. Esperava-se que os príncipes da Índia o visitassem, periodicamente. Nessas ocasiões, nada de importante realmente se decidia, perdoavam-se impostos e anistiavam-se presos, no máximo. Na realidade, tais reuniões não passavam de uma confirmação cerimoniosa da soberania da Coroa Britânica sobre a Índia. O maior desses príncipes inidanos era Mahbub Ali Kahn, o sexto Nizam de Haiderabade. Numa manhã de segunda-feira, na década de 1880, o Nizam chegou a Delhi, em
Leia Mais Mauricio Lissovsky | 13.jun.2016
Inicio hoje, aqui no Icônica, uma série que pretendo sustentar por um algum tempo. É sobre minha pequena coleção de arte gráfica e pintura. Dito assim, parece coisa “chique”, mas não é, realmente. Há alguns anos comecei a comprar em leilões na internet obras de autoria desconhecida, sem assinatura ou com assinatura dita “indecifrável”. Não compro qualquer coisa. Apenas o que gosto ou o que me atrai, por alguma razão que nem sempre está clara para mim no momento da aquisição. Imagino que boa parte do que circula por aí
Leia Mais Ronaldo Entler | 6.out.2014
Dentro da tradição das academias de arte, o retrato sempre teve um lugar relativamente digno, um pouco abaixo da pintura de cenas históricas, mas acima da paisagem e da natureza morta. Distante da concepção institucionalizada de arte que resultou nessa hierarquização, o retrato tinha também uma função utilitária: era parte de rituais que permitiam dar ao sujeito uma posição social de destaque e gerir a memória que seria deixada para a posteridade. É o mesmo ritual que a fotografia veio a popularizar no século XIX, dando ao pequeno burguês a chance
Leia Mais Rubens Fernandes Junior | 23.out.2013
Tenho muita curiosidade pelas fotografias que remetem à própria fotografia. Dedico uma atenção especial a essas imagens que coleto aleatoriamente em sebos e outros espaços e que reúnem dados que alguém julgou sem importância. Mas sempre busco questionar a fotografia que fala dela mesmo. Quais critérios estabelecer para buscar na imagem alguma “centelha do acaso” que remeta à própria fotografia? Os limites que demarcam essas possibilidades geralmente são nebulosos e quase sempre subjetivos. Mesmo assim, venho colecionando fotografias que de alguma forma “falam” da própria fotografia. Em seu importante estudo
Leia Mais Rubens Fernandes Junior | 23.set.2013
Num momento em que a visibilidade e a transparência da comunicação determinam o quanto somos reconhecidos nos diferentes grupos em que atuamos, não deixa de ser interessante pensar no velho cartão postal como uma mídia aberta, com imagem e texto, que circulou livremente durante décadas mundo afora. Hoje, foi substituído pelos aplicativos tipo Instagram, WhatsApp, entre outros, locais de livre e imediata circulação de imagens e textos. Sou colecionador de cartões postais e, de tempos em tempos, eu me surpreendo com mensagens inscritas no verso dos cartões, que operam como
Leia Mais Rubens Fernandes Junior | 21.maio.2013
Eu não sei com precisão quando surgiu meu interesse por uma informação qualquer que “cerque” a fotografia. Lembro-me bem das embalagens que utilizava há mais de 30 anos em minhas atividades e que tinham alguma importância à medida que, em cada filme e em cada caixa de papel fotográfico, percebia diferenças entre cores, tipos gráficos e design. Isso identificava os produtos que nos idos dos anos 1970 eram de marcas bem distintas. Além disso, os anúncios publicados nas revistas Iris, Fotóptica, Cinótica e a do Foto Cine Bandeirante eram bem
Leia Mais Rubens Fernandes Junior | 7.maio.2013
O que significa para a cronologia da fotografia apresentar novos nomes e fatos que poderão trazer mais consistência à sua história? Evidentemente, os novos dados são sempre bem vindos, mas não podemos esquecer que muitas vezes eles nascem relacionados a uma experiência vivida, relatada oralmente por aqueles que participaram do processo. À medida que nos distanciamos no tempo, algumas dessas iniciativas se valorizam, outras se perdem nas sombras do esquecimento, e temos aquelas que vão se manifestando aos poucos, até encontrar o momento exato para se tornarem públicas. Como muitos
Leia Mais Rubens Fernandes Junior | 2.abr.2013
Inúmeras vezes declarei meu desejo de publicar uma história da fotografia a partir de imagens que venho colecionando há anos. Minha impressão é de que centenas (ou seriam milhares?) de fotografias vagam dispersas pelo mundo do acaso e clamam para serem reunidas de outra maneira, a fim de nos oferecer um outro olhar sobre o documento fotográfico. Como pesquisador atento, vibro com cada imagem que salta expressiva de um álbum familiar ou até mesmo de um conjunto aleatório reunido numa velha caixa de sapatos. Acredito que os arquivos institucionalizados são
Leia Mais Rubens Fernandes Junior | 26.nov.2012
Recentemente, fiz uma incursão pela minha coleção de retratos anônimos feitos por fotógrafos desconhecidos, e que venho denominando de “olhares desaparecidos dos desconhecidos íntimos”. É sempre uma grata surpresa rever estas fotografias, sentir a naturalidade do fotografado diante do dispositivo e se deparar não só com uma harmoniosa relação de luz e sombra, mas também com uma desavergonhada e teatralizada emoção.
Leia Mais Rubens Fernandes Junior | 3.set.2012
Não somente a fotografia atiça meu interesse e minha curiosidade. Gosto também de recolher, estudar e refletir sobre o processo de descarte das imagens, sejam elas antigas ou não. Já registrei em alguns textos anteriores publicados aqui no Icônica meu trabalho de tentar resignificar essas fotografias ao colocá-las novamente no circuito da visibilidade. Chamei-as de fotografias rasgadas, descartadas, deserdadas, entre outras denominações para essas imagens que foram encontradas aleatoriamente em minhas andanças por várias cidades brasileiras. Tenho um profundo respeito por essas fotografias desconhecidas que sobreviveram à violência daqueles que
Leia Mais Rubens Fernandes Junior | 10.jun.2012
Há cerca de dois anos, aproximadamente, tive acesso a um lote de fotografias de índios brasileiros. Apesar de interessante do ponto de vista antropológico e documental, resolvi não adquiri-lo dada a sua complexidade temática e técnica. Explico: tratava-se de um conjunto de imagens (positivos e negativos) de temática indígena que trazia habitantes da região central do país, e que ainda deveria ser pesquisado, higienizado, devidamente copiado, catalogado e problematizado. Além disso, distanciava-se do foco que tento manter no conjunto que venho colecionando nestes mais de 30 anos ininterruptos de andanças
Leia Mais Rubens Fernandes Junior | 25.jul.2011
Entre o homem comum e a história há um abismo, muitas vezes inacessível, incontornável. Sim, isso particularmente me fascina, principalmente quando estou diante das fotografias que venho adquirindo e colecionando há mais de trinta anos. E é exatamente esses retratos – perdidos, esquecidos, abandonados, jogados na lata do lixo da história e deslocados do seu universo de intimidade – que pretendo discutir um pouco neste primeiro texto. Como será que podemos reintegrá-los dignamente à cultura e à cronologia da fotografia?
Leia Mais Ronaldo Entler | 11.abr.2011
Fiquei pensando muito no que leva alguém a rasgar fotografias, como aconteceu com as imagens que Rubens Fernandes encontrou e acolheu em sua coleção (quem chegou agora, tem que ler o post anterior). Uma maneira de responder seria pensar às avessas o que leva alguém a produzir imagens. Arbitrariamente, pensei em três possibilidades ligadas ao que poderíamos chamar de “pensamento mágico”, “pensamento simbólico” e “pensamento burocrático”. Em cada um deles, e sucessivamente, existe um nível menor de vinculo entre a representação e o mundo, portanto, também um nível menor de
Leia Mais Rubens Fernandes Junior | 5.abr.2011
Em 2009, passeando pela Feira do Bixiga, em São Paulo, num domingo qualquer, me deparei com um estranho amontoado de fragmentos fotográficos. Simplesmente uma coleção de recortes fotográficos, ou melhor, dezenas de fotografias rasgadas aos pedaços. Sim, quem resolveu jogar fora as fotografias também decidiu rasgá-las como meio de tentar fazer desaparecer suas imagens do passado.
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