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Adelaide Ivánova escreve. Escreve com tanta frequência, produz tanto, que, penso, escreve até mais do que vive. Seu texto é urgente, imediato. Sempre com um gosto de uma conversa impulsiva. Suas palavras me chegam radiosas, incontroláveis; ora machucadas, arranhadas, escapulidas de uma ebulição qualquer. Mas este post aqui, na verdade, é sobre um outro matiz de seu trabalho, um livro de fotografias recentemente publicado. Primeiras lições de hidrologia – e outras observações é, ao mesmo tempo, um álbum de família e um guia crítico do Recife. Adelaide mostra uma cidadeLeia Mais

Em pleno salto

Pio Figueiroa | 7.abr.2014

O Icônica é um lugar que fomenta o meu discurso. De certa forma, uma foto que carrego no bolso e me ajuda a achar sentidos nas coisas que procuro – e me são caros os achados. Aqui, um céu torna-se possível: os espaços vazios da minha pesquisa se veem provocados quando não preenchidos pelo que esta constelação ilumina. Pensando em um primeiro post, escrevi um pouco sobre um estado recente em que tenho vivido. Sinto-me assim em uma espécie de fotografia, com a vida provisoriamente suspensa e dispersa em umaLeia Mais

Ver é inquietar-se

Rubens Fernandes Junior | 23.set.2013

Num momento em que a visibilidade e a transparência da comunicação determinam o quanto somos reconhecidos nos diferentes grupos em que atuamos, não deixa de ser interessante pensar no velho cartão postal como uma mídia aberta, com imagem e texto, que circulou livremente durante décadas mundo afora. Hoje, foi substituído pelos aplicativos tipo Instagram, WhatsApp, entre outros, locais de livre e imediata circulação de imagens e textos. Sou colecionador de cartões postais e, de tempos em tempos, eu me surpreendo com mensagens inscritas no verso dos cartões, que operam comoLeia Mais
A fotografia foi considerada uma forma menor de expressão porque, supostamente, limitava-se a coletar do mundo, por meio de um gesto mecânico, fragmentos de formas prontas e já resolvidas em seus sentidos. Em resposta, a afirmação da fotografia como arte exigiu reduzir a realidade a um estado de matéria-prima insignificante, disponível para a manipulação do fotógrafo e para a projeção de sentidos que lhe são totalmente subjetivos. Se essas posições extremas nos deixam uma lição, é a necessidade de enxergar o processo de criação como algo que concilia invenção eLeia Mais

Referências cruzadas – outras luzes

Rubens Fernandes Junior | 2.abr.2013

Inúmeras vezes declarei meu desejo de publicar uma história da fotografia a partir de imagens que venho colecionando há anos. Minha impressão é de que centenas (ou seriam milhares?) de fotografias vagam dispersas pelo mundo do acaso e clamam para serem reunidas de outra maneira, a fim de nos oferecer um outro olhar sobre o documento fotográfico. Como pesquisador atento, vibro com cada imagem que salta expressiva de um álbum familiar ou até mesmo de um conjunto aleatório reunido numa velha caixa de sapatos. Acredito que os arquivos institucionalizados sãoLeia Mais

Colecionador de Olhares Desaparecidos [parte 3]

Rubens Fernandes Junior | 26.nov.2012

Recentemente, fiz uma incursão pela minha coleção de retratos anônimos feitos por fotógrafos desconhecidos, e que venho denominando de “olhares desaparecidos dos desconhecidos íntimos”. É sempre uma grata surpresa rever estas fotografias, sentir a naturalidade do fotografado diante do dispositivo e se deparar não só com uma harmoniosa relação de luz e sombra, mas também com uma desavergonhada e teatralizada emoção.Leia Mais

O silêncio e a passividade de um novo começo

Rubens Fernandes Junior | 23.out.2012

Os tios mais velhos reclamam porque nunca poderão ver aquelas centenas de fotografias produzidas em uma festa familiar. Em contrapartida, as crianças se deliciam com o imediatismo das múltiplas telas luminosas que mostram essas mesmas fotografias reclamadas passando de mão em mão. Enfim, o clássico conflito de gerações entre os mais velhos e os mais jovens, só que desta vez muito mais acentuado, uma vez que exige algum domínio técnico e demais complexidades. Na verdade, existe entre eles uma enorme diferença perceptual que envolve justamente o ato de fotografar (ritualLeia Mais

Os papéis efêmeros da fotografia

Rubens Fernandes Junior | 3.set.2012

Não somente a fotografia atiça meu interesse e minha curiosidade. Gosto também de recolher, estudar e refletir sobre o processo de descarte das imagens, sejam elas antigas ou não. Já registrei em alguns textos anteriores publicados aqui no Icônica meu trabalho de tentar resignificar essas fotografias ao colocá-las novamente no circuito da visibilidade. Chamei-as de fotografias rasgadas, descartadas, deserdadas, entre outras denominações para essas imagens que foram encontradas aleatoriamente em minhas andanças por várias cidades brasileiras. Tenho um profundo respeito por essas fotografias desconhecidas que sobreviveram à violência daqueles queLeia Mais
As casa antigas sempre me intrigaram. Morei dez anos num sobrado cujas portas e janelas, de madeira, não fechavam direito de tão antigas. O teto, também de madeira, ‘ecoava’ tudo que acontecia no andar de cima. De anos em anos, as paredes sujas – as marcas dos pés debaixo da escrivaninha, a disposição dos quadros, o arranhado das costas das cadeiras, o decalque da bola atirada contra a parede, o queimado do sol à direita de meu quarto – eram vestígios substituídos pela pintura branca. A cada sucessiva pintura refaziam-seLeia Mais

A fotografia como teatro da memória*

Mauricio Lissovsky | 4.jun.2012

De onde vêm estas cenas de Luis Gonzalez Palma? Da memória – é fácil responder. O próprio artista nos diz em um texto de apresentação de seu trabalho: “memórias imaginadas”.  Mas que diferença há entre “memórias imaginadas” e nossas recordações vulgares? Mesmo aquelas que a distância no tempo esmaeceu? Walter Benjamin escreveu uma vez que, na hora da morte, isso que passa pela cabeça dos homens são como as figurinhas que colecionava quando criança – figurinhas que envolviam um feixe de balas em forma de palitos. Isto é, são imagensLeia Mais
Na chamada da propaganda da Canon, quando Sofia é interrogada pelo locutor sobre qual o significado de ter refeito a fotografia, ela afirma ter sido a chance de recuperar o que deveria “ter dado certo na primeira vez e não deu”. Em seu depoimento, Sofia ‘reflete’: “Os grandes momentos escapam, e não temos oportunidade de reconhecê-los pelo que eles são. Quando se tem a oportunidade de observá-los, aí podemos olhar para trás e perceber que se tratava de um grande momento que não se tinha reconhecido”. As histórias apresentadas noLeia Mais
As fotografias nascem quando se tornam legíveis – e essa legibilidade diz respeito ao que se pode ver, pensar e acreditar em determinado ponto crítico de uma época. Como já mencionado, todo presente é determinado pelas imagens que lhe são sincrônicas. Cada agora é o agora de uma capacidade de perceber, tornar legível não o passado em si, mas a constelação entre a materialidade do agora atual e do agora virtual. A visibilidade de uma imagem – aquilo que se atualiza numa fotografia de modo imanente e singular – dependeLeia Mais
Tancredo Neves (Foto: Gervasio Batista)
A memória representa uma sobrevivência simbólica que joga um papel bastante efetivo no destino do mundo. Mas o poder é pragmático e, às vezes, prefere não aguardar a atuação da memória: antes de descansar em paz, o corpo já inanimado do líder pode ser convocado a demonstrar suas possibilidades de sobrevivência. A fotografia cumpre o papel de uma taxidermia que permite a esse corpo resistir ao apodrecimento para permanecer na batalha.Leia Mais
Onde a revolução digital não aconteceu Há vinte anos, especulávamos sobre os impactos das câmeras digitais que estavam para chegar ao mercado, tentávamos entender a mudanças no estatuto das imagens que elas produziriam, e prevíamos uma crise em sua credibilidade pelas facilidades de manipulação. Autores como André Rouillé sugerem que estamos diante de uma imagem de natureza tão distinta, que é um equívoco chamá-la ainda de fotografia (A fotografia, p. 16 e 452). Na prática, creio que essa mudança na forma de inscrição da imagem tenha desdobrado em promessas e ameaçasLeia Mais

Fotografias Deserdadas I

Rubens Fernandes Junior | 25.jul.2011

Entre o homem comum e a história há um abismo, muitas vezes inacessível, incontornável. Sim, isso particularmente me fascina, principalmente quando estou diante das fotografias que venho adquirindo e colecionando há mais de trinta anos. E é exatamente esses retratos – perdidos, esquecidos, abandonados, jogados na lata do lixo da história e deslocados do seu universo de intimidade – que pretendo discutir um pouco neste primeiro texto. Como será que podemos reintegrá-los dignamente à cultura e à cronologia da fotografia?Leia Mais

O processo de criação como memória

Rubens Fernandes Junior | 5.jul.2011

A exposição Bom Retiro e Luz: um roteiro (1976 – 2011), curadoria de Diógenes Moura, no Centro de Cultura Judaica, traz fotografias de Cristiano Mascaro, Bob Wolfenson, Marlene Bergamo e do Coletivo Cia de Foto. O projeto teve como ponto de partida um ensaio de Cristiano Mascaro, produzido em 1976, especialmente para ser exibido na Pinacoteca do Estado, à época dirigida pela crítica Aracy Amaral, que buscava aproximar comunidade e museu, e criar laços de cultura e identidade. Gostaria de concentrar minha atenção na produção da Cia de Foto –Leia Mais
D. Rosa, arquivo pessoal.
Fiquei pensando muito no que leva alguém a rasgar fotografias, como aconteceu com as imagens que Rubens Fernandes encontrou e acolheu em sua coleção (quem chegou agora, tem que ler o post anterior). Uma maneira de responder seria pensar às avessas o que leva alguém a produzir imagens. Arbitrariamente, pensei em três possibilidades ligadas ao que poderíamos chamar de “pensamento mágico”, “pensamento simbólico” e “pensamento burocrático”. Em cada um deles, e sucessivamente, existe um nível menor de vinculo entre a representação e o mundo, portanto, também um nível menor deLeia Mais

Colecionador de Olhares Desaparecidos [parte 1]

Rubens Fernandes Junior | 5.abr.2011

Em 2009, passeando pela Feira do Bixiga, em São Paulo, num domingo qualquer, me deparei com um estranho amontoado de fragmentos fotográficos. Simplesmente uma coleção de recortes fotográficos, ou melhor, dezenas de fotografias rasgadas aos pedaços. Sim, quem resolveu jogar fora as fotografias também decidiu rasgá-las como meio de tentar fazer desaparecer suas imagens do passado.Leia Mais

Quando a verdade não importa

Ronaldo Entler | 21.nov.2010

Por causa de uma reportagem sobre a autobiografia de Robert Capa, retornei às suas imagens e me detive sobre a polêmica fotografia do miliciano, na Guerra Civil Espanhola. Senti quando o beijo de Doisneau foi desmascarado, e torci para que a tese da encenação na foto de Capa fosse apenas especulação. Mas os céticos – para quem realidade e fotografia são coisas sempre avessas – tinham razão, e nos olharam com um ar de “eu avisei!”. Por vocação ou por obrigação, quase todos nós aprendemos a desconfiar das imagens. DominamosLeia Mais

Imagem, memória e coerência

Rubens Fernandes Junior | 2.ago.2010

Esta semana assisti a dois documentários: Dzi Croquettes e Uma noite em 67. Para mim, uma experiência visceral, pois participei ativamente desses dois momentos históricos. Históricos? Sim, pensei muito para assumir isto, mas é inevitável perceber que o tempo passou. Uma noite em 67, centra-se no Festival de Música da TV Record de 1967, num momento em que Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Edu Lobo, Roberto Carlos e Sergio Ricardo disputavam o prêmio de melhor música do festival. Já Dzi Croquettes revela como este grupo de 13 homens aLeia Mais