As imagens anônimas povoam nosso mundo: algumas ainda em papel, podem ser encontradas em lojas de antiquários, arquivos esquecidos, sebos antigos ou em gavetas de móveis pesados, dentro das casas. Muitas vezes sem identificação, algumas em álbuns com legendas, outras vezes, amontoadas em caixas. Correndo sempre risco de serem descartadas e desaparecerem definitivamente, as imagens anônimas nos trazem histórias enigmáticas, rostos desconhecidos, gestos misteriosos. São segredos que aguardam serem questionados. Guardam com elas muitos silêncios, mas também vozes de um passado que permanece na imagem. Passear pelas fotografias anônimas é passear pela história do mundo, penetrar em um arquivo universal, tatear a memória da grande família humana. Rever, a partir delas, o passado é encontrar materialidades de um mundo que, em muitos sentidos, já se foi. É remar contra o apagamento digitalizante, perceber outros modos de vestir, outra corporalidade, outros gestos nas inscrições da história. Podemos perguntar: o nos levou a guardar certas imagens, o que moveu a destruição de outras, porque alguém teria rasgado aquela fotografia? o que fez com que aquele pequeno cartão postal fosse preservado do mofo? Acaso? Política? Algumas imagens sobrevivem, outras desaparecem. Pois, a fotografia anônima nos possibilita pensar não apenas a história não oficial, mas também a política dos arquivos e o desaparecimento do que não foi preservado. São rastros, sempre frágeis, do tempo e do homem.
Artigos do Icônica
Com os artigos a seguir, podemos pensar como a proliferação das imagens também trazem questões que permeiam a relação entre intimidade e público, exposições da vida privada e vigilâncias sociais.