As imagens têm histórias e as histórias, imagens. São entrelaçamentos. Assim, desde que a fotografia foi apresentada na primeira metade do século XIX, a história da humanidade passou a ter outra cara, pintada agora pelo “lápis da natureza”. Tal definição, proposta por William Henry Fox-Talbot em 1839, caracteriza bem o que a fotografia inventou: uma nova alucinação, a de que a verdade do passado poderia ser, então, conhecida. Desde lá, passado e verdade, confundiram-se de um jeito inteiramente novo. A fotografia e a história, a partir desse advento, não puderam mais se distinguir. Com ela, encontramos ainda hoje pequenos rastros de sonhos antigos, pedaços de fábulas, ruínas de documentos. O que foi e o que poderia ter sido, sempre à espera de serem percebidos por nós. São histórias sobre a colonização dos continentes, o delírio urbanístico do século XIX, o ímpeto imperialista dos desbravadores; histórias da guerra e dos sobreviventes do século XX, da luta pela reconstrução das cidades; são fantasmas de outros cotidianos, gestos pequenos e banais, testemunhas das famílias e viagens, da natureza e de sua transformação, do progresso e do fracasso humano. A fotografia é um arquivo vivo de uma história sempre reescrita.