Tema: Teoria > Filosofia

A fotografia e seus duplos III

Mauricio Lissovsky | 14.nov.2011

Por meio do duplo a fotografia interroga-se sobre sua história e a respeito do papel que lhe cabe no mundo. Uma das formas recorrentes do duplo fotográfico é colocar em cena as relações entre a fotografia e outros modos de aparecer das imagens. Em 15/02/1937, a página 9 da revista Life estampou uma das fotos mais famosas de Margaret Bourke-White: diante de um outdoor onde a família branca sorridente viaja de férias em seu carro, uma fila de homens e mulheres negros, refugiados das enchentes em Louisville (naquele ano, asLeia Mais
Ano passado as cigarras cantaram durante semanas para anunciar a chuva. Sempre ouvi dizer que elas anunciavam dias ensolarados, mas aqui no cerrado não. Quando seu canto ensurdece a tarde é porque a seca está finalmente cedendo. Nos dias cantantes das cigarras, a seca parece ainda mais intensa e dura tanto quanto as dobras dos vestuários no início da fotografia de Walter Benjamin (quando vivíamos não ao sabor do instante, mas dentro dele, crescendo dentro da imagem).Leia Mais

La Ciotat: de volta para o futuro*

Mauricio Lissovsky | 17.out.2011

Proust escreveu que a “imobilidade das coisas que nos cercam talvez lhes seja imposta por nossa certeza de que essas coisas são elas mesmas e não outras, pela imobilidade de nosso pensamento perante elas”. Vejam esta fotografia de Baudelaire, feita por seu amigo Nadar. Parece estática para nós, hoje em dia, mas há todo um movimento ali. Um movimento que o poeta procurou expressar em um soneto dedicado ao fotógrafo. Depois de comparar a experiência de posar no estúdio fotográfico a morrer de uma “dor saborosa”, “misto de êxtase eLeia Mais

A fotografia e seus duplos II

Mauricio Lissovsky | 13.set.2011

Há este carte de visite do Imperador do Brasil e seu duplo, feito por Carneiro & Gaspar, em 1867. Nele, Dom Pedro II, aficionado e colecionador tenaz de fotografias, apesar da sobriedade da expressão, empresta sua real figura a uma anedota. O grande interesse de Sua Majestade pela técnica fotográfica pode tê-lo motivado a submeter-se a este “experimento” (na mesma ocasião, também foi feita imagem similar da Imperatriz Teresa Cristina), mas é impossível deixar de associar esta imagem à tradição taumatúrgica do caráter duplo do corpo do Rei: um corpoLeia Mais
Julia Margaret Cameron, 1860.

Garçons e brisas fotográficas

Cláudia Linhares Sanz | 29.ago.2011

Imagine que você tenha tido um encontro amoroso numa festa, talvez num bar. Noite alta, vocês já juntos, teriam pedido ao garçom uma fotografia pelo celular. Em meio aos afazeres, a bandeja de lado. Entre vocês e aquele homem, uma eternidade. Entre a ação do dedo e a pausa, um silêncio instantâneo. Segurando o celular, o homem pensou no cansaço, no patrão, nas contas a pagar. Lembrou da mulher, da vizinha gostosa, da batata frita pedida pela mesa ao lado, do chope do cliente mal-educado esquentando no balcão (por queLeia Mais

A fotografia e seus duplos I

Mauricio Lissovsky | 8.ago.2011

Há esta fotografia, de Adenor Gondim. Está em seu blog, chamado “Apenas Bahia. Apenas Fotografia”. Em um “Café Fotográfico” que compartilhamos, em Salvador, em 07/06/2011, convidados pelo José Mamede, contou-nos sua história. Procurava um fundo para fotografar os santinhos que havia comprado para presentear o filho, mas nada o satisfazia. Percebeu, jogada em um canto, esse retrato feito em Bom Jesus da Lapa. Os santinhos encontraram aí, finalmente, o seu lugar.Leia Mais

Arqueologia de um filme de Godard

Ronaldo Entler | 16.dez.2010

O Dobras Visuais lançou uma pergunta a uma série de convidados: qual imagem chacoalhou você na 29a Bienal? Vale a pena conferir as respostas. Escolhi Je vous salue, Sarajevo, de Jean-Luc Godard, filme de pouco mais de dois minutos em que Godard disseca uma fotografia feita durante a guerra nos Balcãs, na antiga Iugoslávia.  Mandei para o Dobras um breve comentário. Aqui, deixo um relato sobre a aventura que foi mergulhar nesse pequeno filme. Pensar qualquer obra de um artista erudito implica fazer uma espécie de arqueologia. Você encontra coisasLeia Mais
É natural que idéias sejam deturpadas por quem as menospreza, mas o conceito de virtual foi às vezes mutilado pelo fogo amigo: é o fato de estar na moda que dificulta sua compreensão. Temos chamado de virtual tudo aquilo que está associado às novas tecnologias, sobretudo às redes. Construímos assim a impressão de que esta palavra surge para dar conta de uma novidade. Mas é preciso saber que estamos diante de uma noção que é, pelo menos, uns vinte e cinco séculos mais velha que os computadores.Leia Mais

A fotografia segundo Jesus Cristo

Ronaldo Entler | 7.set.2010

Nesse fim de semana, tivemos o Intercom em Caixas do Sul. Houve algumas ausências,  como Fernando de Tacca, Cláudia Linhares e meu parceiro Rubens Fernandes Junior. Em compensação, chegaram novos integrantes, como Eduardo Queiroga e Lívia Aquino. O trabalho que apresentei nasceu de um post para o Icônica, que nunca foi publicado porque ficou grande (e talvez estranho) demais. Aí vai um resumo: Acheiropoiesis: sobrevivência do valor de culto na imagem técnica O cristianismo passou séculos discutindo se era ou não legítimo representar Deus por meio da imagem. Dentre toda aLeia Mais

Invisibilidades, recalques e revelações

Ronaldo Entler | 29.ago.2010

Na semana passada, tivemos no Senac Consolação o evento Estética do (In)visível, com a presença de Evgen Bavcar. Ele realizou uma palestra e integrou a exposição do projeto Alfabetização Visual, coordenado por João Kulcsár, que envolve deficientes visuais num trabalho de arte-educação com fotografia. Participei também da programação num debate com Fernando Fogliano. A provocação era falar do “invisível na fotografia”,  aí vai (mais ou menos) o que foi a minha fala. O acaso como espaço de descoberta de um olhar descentralizado A fotografia está marcada por um potencial comLeia Mais
Depositamos sobre a fotografia uma confiança exagerada. Como resposta, muitas teorias se voltaram contra antigos conceitos que pareciam impedir uma visão mais crítica sobre o meio. Mas, afirmada tal consciência sobre os limites da fotografia, é possível fazer as pazes com um vocabulário que, usado de modo mais preciso, pode nos ser novamente úteis. Recolocamos outros quatro conceitos: analogia, mimesis, verossimilhança e objetividade.Leia Mais
Sabemos que, desde sua invenção, recaiu sobre a fotografia uma confiança exagerada. A ideia de que ali havia uma reprodução fiel da realidade garantiu sua imediata aceitação como instrumento de memória e documentação, no entanto, atrapalhou seu reconhecimento como arte. Nos últimos 30, talvez 40 anos, muitas teorias se empenharam em desconstruir essa confiança, denunciando as bases ingênuas que legitimavam muitos dos usos da fotografia.Leia Mais
Nesta copa, me chamou a atenção a performance dos jogadores que sofrem falta. São incríveis as quedas: com a potência de uma corrida, um pequeno toque do adversário pode gerar um salto acrobático, uma cambalhota no ar, ou um vôo com braços e pernas projetados, terminando com uma sequência incrível de rolamentos no chão. Claro, também o grito e a expressão de dor no rosto e, por algum tempo, a contorção ou a agitação desesperada. Talvez tenha sido sempre assim no futebol, a diferença está na nas tecnologias disponíveis, nasLeia Mais