Rubens Fernandes Junior | 5.ago.2016
Sem dúvida, Lily Sverner é uma artista que pertence a seu tempo; um tempo presente condicionado pelos ecos do passado. Ela vê o mundo sem pressa. Vê e registra seu momento como se buscasse suspender a passagem do tempo. Cada uma das suas fotografias parece muito mais com um fluxo contínuo de lembranças vividas com intensidade. Para ela, a fotografia se tornou uma fantástica ferramenta para exaltar o que surge e desaparece na incrível velocidade cotidiana. Mas, Lily não tem pressa. Em suas imagens nos deparamos com a interrupção de
Leia Mais Mauricio Lissovsky | 18.jun.2013
Muita gente se espanta que brilhantes filósofos medievais, como Tomás de Aquino e Duns Scotus, tenham dedicado tanto tempo a discutir quantos anjos poderiam dançar na cabeça de um alfinete. Mas, ao contrário do que hoje se supõe, essa pergunta não era despropositada. E debatê-la não era jogar conversa fora. Significava, entre outras coisas, perguntar-se em quantas mínimas partes (“átomos”, dizia-se, em grego) uma substância poderia ser dividida. Tanto que, em 2001, um físico quântico, Anders Sandberg, teve a pachorra de fazer a conta e estimou essa quantidade que 8,6766
Leia Mais Ronaldo Entler | 1.maio.2013
Cao Guimarães é um artista e cineasta que tem se empenhado para diminuir a distância entre esses dois campos, mas que, de fato, sempre foi visto mais confortavelmente no circuito de galerias e bienais do que nas salas de cinema. Uma amostra significativa de sua produção, que inclui também seus longa-metragens, está sendo exibida agora no Itaú Cultural, em São Paulo. O título da mostra, Ver é uma fábula, é emprestado do livro Catatau, de Paulo Leminski, e nos desarma das questões que tendemos a colocar sobre a veracidade daquilo que
Leia Mais Cláudia Linhares Sanz | 8.abr.2013
Da série de fatos inexplicáveis que são o universo ou o tempo acrescentaria a fotografia. Uma espécie gabinete mágico, a espera de que algo aconteça para, enfim, revelar-se. Sua sobrevivência histórica é ainda mais enigmática. Hoje? Entre tantas tecnologias inovadoras, entre tantos hibridismos imagéticos: como poderia a fotografia não ter sido totalmente tragada pelas famílias de imagens que não cessam de se multiplicar e fundir-se? Sua persistência é, provavelmente, acontecimento que ninguém poderia pressentir. A despeito dos prognósticos mais acurados de teóricos e pensadores da mais alta qualidade, que avistavam
Leia Mais Cláudia Linhares Sanz | 10.dez.2012
Michael Ruetz ficou conhecido pelas imagens das marchas triunfais da Oposição Extraparlamentar Alemã – APO e das manifestações no campus da Universidade Livre de Berlim após o assassinato do jovem Benno Ohnesorg, em 1969. Documentou também a invasão da Tchecoeslováquia pelas tropas soviéticas e, como enviado da revista alemã Stern, cobriu a ditadura militar na Grécia. Mais tarde, fotografou a vitória de Salvador Allende no Chile, a guerra em Guiné-Bissau e vários outros eventos internacionais. Seu trabalho pode provavelmente ser comparado ao de muitos fotojornalistas que testemunharam a amplitude, a
Leia Mais Ronaldo Entler | 24.set.2012
Viagens no tempo aparecem de forma recorrente na obra do fotógrafo e cineasta Chris Marker, a exemplo do que vemos em seus trabalhos mais conhecidos, o “foto-romance” La Jetée (1962) e, mais sutilmente, em Sans Soleil (1983). Viajar no tempo é algo que ele mesmo faz na relação que estabelece com seus arquivos. Desde seus primeiros trabalhos, ele assume transitar por um terreno instável: os sentidos das imagens. E faz delas o palco em que a história contracena com o presente. Dessas experiências, podemos tirar algumas lições: 1. as imagens
Leia Mais Cláudia Linhares Sanz | 28.nov.2011
Às vezes uma fotografia nasce pela força de futuro, outras vezes pela insistência do presente: existo, existo, existo – resisto. Há, no entanto, fotografias que surgem porque o que já não existe persiste como fantasma, do mesmo modo que a estrela que, separada pelos milhões de anos luz – só encontra sua imagem quando já silenciada. A estrela sobrevive na imagem graças ao impulso de um passado que deseja viver no futuro e que pressiona em direção a ele. Ela, no entanto, só pode ser vista (e existir) por um
Leia Mais Cláudia Linhares Sanz | 24.out.2011
Ano passado as cigarras cantaram durante semanas para anunciar a chuva. Sempre ouvi dizer que elas anunciavam dias ensolarados, mas aqui no cerrado não. Quando seu canto ensurdece a tarde é porque a seca está finalmente cedendo. Nos dias cantantes das cigarras, a seca parece ainda mais intensa e dura tanto quanto as dobras dos vestuários no início da fotografia de Walter Benjamin (quando vivíamos não ao sabor do instante, mas dentro dele, crescendo dentro da imagem).
Leia Mais Mauricio Lissovsky | 17.out.2011
Proust escreveu que a “imobilidade das coisas que nos cercam talvez lhes seja imposta por nossa certeza de que essas coisas são elas mesmas e não outras, pela imobilidade de nosso pensamento perante elas”. Vejam esta fotografia de Baudelaire, feita por seu amigo Nadar. Parece estática para nós, hoje em dia, mas há todo um movimento ali. Um movimento que o poeta procurou expressar em um soneto dedicado ao fotógrafo. Depois de comparar a experiência de posar no estúdio fotográfico a morrer de uma “dor saborosa”, “misto de êxtase e
Leia Mais Cláudia Linhares Sanz | 29.ago.2011
Imagine que você tenha tido um encontro amoroso numa festa, talvez num bar. Noite alta, vocês já juntos, teriam pedido ao garçom uma fotografia pelo celular. Em meio aos afazeres, a bandeja de lado. Entre vocês e aquele homem, uma eternidade. Entre a ação do dedo e a pausa, um silêncio instantâneo. Segurando o celular, o homem pensou no cansaço, no patrão, nas contas a pagar. Lembrou da mulher, da vizinha gostosa, da batata frita pedida pela mesa ao lado, do chope do cliente mal-educado esquentando no balcão (por que
Leia Mais Ronaldo Entler | 3.nov.2010
É natural que idéias sejam deturpadas por quem as menospreza, mas o conceito de virtual foi às vezes mutilado pelo fogo amigo: é o fato de estar na moda que dificulta sua compreensão. Temos chamado de virtual tudo aquilo que está associado às novas tecnologias, sobretudo às redes. Construímos assim a impressão de que esta palavra surge para dar conta de uma novidade. Mas é preciso saber que estamos diante de uma noção que é, pelo menos, uns vinte e cinco séculos mais velha que os computadores.
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