PERSONA
A tradição da paisagem na pintura quase sempre exclui a figura humana. É preciso que nos retiremos da cena, que imaginemos uma natureza anterior à nossa existência, para enxergar o modo hostil ou generoso como ela nos aguarda. A paisagem é, portanto, um espaço no qual o ser humano se expressa, paradoxalmente, inscrevendo nele sua ausência. Hoje, quando as marcas que deixamos pelo caminho já não podem ser ocultadas, essa ausência impõe outra leitura. Não se trata mais da nostalgia de uma origem, mas da fantasia de uma desaparição. Testamos na paisagem a possibilidade de restar de nós uma memória, de que nosso gesto e nosso rosto se faça presente, ainda que sob a forma de ruínas. A perspectiva se inverte mas, de uma forma ou de outra, o gênero paisagem nunca esconde totalmente suas camadas de retrato.
Buscar o ser humano na paisagem em que ele não está exige vasculhar não apenas o espaço, mas também o tempo: ele se revela na imaginação desse momento preciso em que estamos prestes a chegar ou, então, em que acabamos de partir. Essas imagens são o resultado de uma exploração de terreno, mas também de uma espera que não se pode apressar. Há um lugar e uma hora precisa em que a ausência e a presença humana se entrevêem e se mimetizam [Ronaldo Entler].
Karina Rampazzo é designer e artista visual. Trabalha entre os suportes analógicos e digitais, explorando os acidentes criados por dispositivos fotográficos amadores. Graduada em Programação Visual (Unopar), pós-graduada em Fotografia (UEL) e mestre em Comunicação (UEL). É professora no curso de Comunicação Social da Faculdade Pitágoras de Londrina.