KARINA RAMPAZZO | Persona

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Persona é o exercício contínuo que Karina Rampazzo faz de pensar como retrato os rastros humanos deixado na paisagem. O ritual que se estabelece é despretensioso:  uma câmera amadora (às vezes, uma câmera de brinquedo) sempre ao alcance da mão; a disponibilidade para um encontro que pode ocorrer independentemente da busca; JPGs quase esquecidos num HD ou, então, um filme que deve esperar mais de um ano para ser revelado.
O cronograma do Paragem perturba o tempo lento desse exercício, apressa a revisita aos arquivos e os cliques que faltam para que o filme seja revelado. Essas imagens precipitadas não são por si mesmas nem melhores nem piores, mas estão fora do tempo que os encontros demandam. O trabalho reencontra seu verdadeiro rumo com um novo filme na câmera que permite retomar a disponibilidade e a espera. Uma parte significativa do trabalho estará sempre ali, latente.
PERSONA
A tradição da paisagem na pintura quase sempre exclui a figura humana. É preciso que nos retiremos da cena, que imaginemos uma natureza anterior à nossa existência, para enxergar o modo hostil ou generoso como ela nos aguarda. A paisagem é, portanto, um espaço no qual o ser humano se expressa, paradoxalmente, inscrevendo nele sua ausência. Hoje, quando as marcas que deixamos pelo caminho já não podem ser ocultadas, essa ausência impõe outra leitura. Não se trata mais da nostalgia de uma origem, mas da fantasia de uma desaparição. Testamos na paisagem a possibilidade de restar de nós uma memória, de que nosso gesto e nosso rosto se faça presente, ainda que sob a forma de ruínas. A perspectiva se inverte mas, de uma forma ou de outra, o gênero paisagem nunca esconde totalmente suas camadas de retrato.
Buscar o ser humano na paisagem em que ele não está exige vasculhar não apenas o espaço, mas também o tempo: ele se revela na imaginação desse momento preciso em que estamos prestes a chegar ou, então, em que acabamos de partir. Essas imagens são o resultado de uma exploração de terreno, mas também de uma espera que não se pode apressar. Há um lugar e uma hora precisa em que a ausência e a presença humana se entrevêem e se mimetizam [Ronaldo Entler].
Karina Rampazzo é designer e artista visual. Trabalha entre os suportes analógicos e digitais, explorando os acidentes criados por dispositivos fotográficos amadores. Graduada em Programação Visual (Unopar), pós-graduada em Fotografia (UEL) e mestre em Comunicação (UEL).  É professora no curso de Comunicação Social da Faculdade Pitágoras de Londrina.
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Neste momento um rolo de filme está dentro da câmera. Não lembro qual ISO, talvez um 200. Isso não importa, como também não importa em qual câmera está. Esquecer estas tarefas técnicas faz da imagem latente algo ainda mais independente de mim. Considerando que estas ações são propositais e conscientes, jogo com o desconhecido na tentativa de descontrolar minhas intenções.
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Dessa vez saí com a câmera para fotografar especificamente para o Persona . Nunca tinha feito isso antes, programar minha saída para um único projeto.
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Fotografei meu filho no mesmo filme.
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Observo os detalhes das paisagens por onde passo. Estes dias têm sido de caçada. Não viajei para lugar algum, fiquei em minha cidade. Descobri/Conheci muitas personalidades escondidas.
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No trânsito, dentro do carro, fotografo um muro com uma abertura circular. Atrás da abertura, vegetação. Talvez a fotografia fique trêmula. Conheci uma pessoa que sempre mentia. Um dia ela esqueceu de mentir e percebi um desapontamento discreto. Um suspiro.
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Quando me refiro à paisagem me refiro à personalidade das pessoas.
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Sábado. Encontrei uma pilha de telhas ou tijolos em frente à uma casa.
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Passei por um rua cheia de árvores, não encontrei ninguém.
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Onde será que encontro uma fogueira?
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Procuro por um prego fincado em um tronco de árvore.
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Não encontrei fogueira nem o prego. Terminei o filme, está na revelação.
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Me perguntam porque ainda uso câmera analógica. O tempo de espera faz parte da maneira como concebo as imagens. Alguns projetos são fotografados digitalmente e esquecidos em uma pasta no computador. Fotografar é instigante de qualquer maneira. Mas a relação física com a fotografia permite, além do fetiche, um reencontro.
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Persona é um projeto que deve continuar.
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