História e arqueologiasTag

Dentro da tradição das academias de arte, o retrato sempre teve um lugar relativamente digno, um pouco abaixo da pintura de cenas históricas, mas acima da paisagem e da natureza morta. Distante da concepção institucionalizada de arte que resultou nessa hierarquização, o retrato tinha também uma função utilitária: era parte de rituais que permitiam dar ao sujeito uma posição social de destaque e gerir a memória que seria deixada para a posteridade. É o mesmo ritual que a fotografia veio a popularizar no século XIX, dando ao pequeno burguês a chanceLeia Mais

Carta a Rodrigo, de Valparaíso

Pio Figueiroa | 2.maio.2014

São Paulo, 29 de abril de 2014. Querido Rodrigo Gomez Rovira, Há tempos queria tê-lo escrito para falar de mim. Voltei às pressas de sua cidade tentando resolver o fim de uma história profissional construída em grupo, que me colocou, abruptamente, em uma nova trajetório de trabalho. Uma saída corrida em busca do que não havia jeito… Não escrevi antes. Esperava ter coragem, esperava o tempo que você merecia para saber sobre a minha volta tão rápida a São Paulo. Mas há poucos dias vi a sua cidade pela notíciaLeia Mais

O fantasma de Baudelaire

Ronaldo Entler | 11.dez.2013

Há algumas semanas, foi divulgado um retrato feito no século XIX de um certo Sr. Arnauldet, e que deixa aparecer ao fundo um intruso que foi identificado como sendo Baudelaire. Foi Serge Plantureux, marchand de fotografias de Paris, quem adquiriu essa imagem e, a partir de alguns dados levantados na Biblioteca Nacional da França, convenceu-se de que eram grandes as chances de se tratar mesmo daquele poeta. O modo hesitante como espia a performance do fotógrafo e do fotografado denuncia sua consciência de estar onde não deveria. Resta um corpoLeia Mais

Colecionando Borboletas

Mauricio Lissovsky | 21.nov.2013

Um magnífico daguerreótipo de cerca de 1850, da Coleção George Eastman House nos exibe um orgulhoso colecionador de borboletas ao lado de sua vistosa coleção. Uma a uma, ele as pregou contra o fundo claro da caixa que provavelmente mantém fechada para que o contato com a luz e o ar não prejudique os espécimes. Se prestarmos um pouco mais de atenção, ao que temos diante dos olhos, as surpresas se multiplicam. Tudo nesta imagem convoca o duplo. A começar, obviamente, pelas abas das caixas, que se dobram sobre siLeia Mais
A fotografia foi considerada uma forma menor de expressão porque, supostamente, limitava-se a coletar do mundo, por meio de um gesto mecânico, fragmentos de formas prontas e já resolvidas em seus sentidos. Em resposta, a afirmação da fotografia como arte exigiu reduzir a realidade a um estado de matéria-prima insignificante, disponível para a manipulação do fotógrafo e para a projeção de sentidos que lhe são totalmente subjetivos. Se essas posições extremas nos deixam uma lição, é a necessidade de enxergar o processo de criação como algo que concilia invenção eLeia Mais
Michael Ruetz ficou conhecido pelas imagens das marchas triunfais da Oposição Extraparlamentar Alemã – APO e das manifestações no campus da Universidade Livre de Berlim após o assassinato do jovem Benno Ohnesorg, em 1969. Documentou também a invasão da Tchecoeslováquia pelas tropas soviéticas e, como enviado da revista alemã Stern, cobriu a ditadura militar na Grécia. Mais tarde, fotografou a vitória de Salvador Allende no Chile, a guerra em Guiné-Bissau e vários outros eventos internacionais. Seu trabalho pode provavelmente ser comparado ao de muitos fotojornalistas que testemunharam a amplitude, aLeia Mais

Colecionador de Olhares Desaparecidos [parte 3]

Rubens Fernandes Junior | 26.nov.2012

Recentemente, fiz uma incursão pela minha coleção de retratos anônimos feitos por fotógrafos desconhecidos, e que venho denominando de “olhares desaparecidos dos desconhecidos íntimos”. É sempre uma grata surpresa rever estas fotografias, sentir a naturalidade do fotografado diante do dispositivo e se deparar não só com uma harmoniosa relação de luz e sombra, mas também com uma desavergonhada e teatralizada emoção.Leia Mais

A imagem como teoria

Ronaldo Entler | 21.maio.2012

Neste último sábado, estive no I Encontro Pensamento e Reflexão na Fotografia, no MIS, conversando sobre a experiência do Icônica com os amigos Fernando de Tacca, da Revista Studium, e Mane Adaro, do blog Chilenización de la Fotografia. A proposta era pensar a internet como espaço de difusão do pensamento sobre a fotografia. O Icônica nasceu da vontade de compartilhar de um modo mais informal nossas pesquisas e intuições, e da constatação de que a internet é um grande espaço para fazer circular o pensamento. O blog é, de fato,Leia Mais

A fotografia e a Semana de 22 – Parte I

Rubens Fernandes Junior | 26.fev.2012

Na celebração dos noventa anos da Semana de Arte Moderna, há várias homenagens e publicações que tentam dar conta da extensão e da importância que o evento teve nas artes em geral. Mas poucos discutem as lacunas e as ausências cada vez mais evidentes à medida que nos distanciamos no tempo. No dia 15 fevereiro de 1922, duas semanas antes do Carnaval, teve início a Semana de Arte Moderna no Teatro Municipal de São Paulo. Em tese, este acontecimento cultural com preocupações nacionalistas poderia ter ampliado sua ressonância caso seLeia Mais

Revista Joia vê o Brasil

Rubens Fernandes Junior | 12.fev.2012

O ano de 2012 começou para mim com várias frentes de pesquisa e novos projetos. Um deles é tentar organizar informações a fim de elaborar uma cronologia e uma reflexão sobre a fotografia, os fotógrafos e a moda no Brasil, prevista para o segundo semestre de 2013. Claro que, se olharmos para os últimos quinze anos, vamos nos deparar com algumas tentativas de sistematizar uma história da moda, uma vez que o país é hoje referência e alcança até mesmo algumas iniciativas de excelência na área. Mas, na maioria dasLeia Mais

Nascimentos fotográficos

Cláudia Linhares Sanz | 28.nov.2011

Às vezes uma fotografia nasce pela força de futuro, outras vezes pela insistência do presente: existo, existo, existo – resisto. Há, no entanto, fotografias que surgem porque o que já não existe persiste como fantasma, do mesmo modo que a estrela que, separada pelos milhões de anos luz – só encontra sua imagem quando já silenciada. A estrela sobrevive na imagem graças ao impulso de um passado que deseja viver no futuro e que pressiona em direção a ele. Ela, no entanto, só pode ser vista (e existir) por umLeia Mais

La Ciotat: de volta para o futuro*

Mauricio Lissovsky | 17.out.2011

Proust escreveu que a “imobilidade das coisas que nos cercam talvez lhes seja imposta por nossa certeza de que essas coisas são elas mesmas e não outras, pela imobilidade de nosso pensamento perante elas”. Vejam esta fotografia de Baudelaire, feita por seu amigo Nadar. Parece estática para nós, hoje em dia, mas há todo um movimento ali. Um movimento que o poeta procurou expressar em um soneto dedicado ao fotógrafo. Depois de comparar a experiência de posar no estúdio fotográfico a morrer de uma “dor saborosa”, “misto de êxtase eLeia Mais
Viagem pelo Fantástico - Capa
Há poucos dias fui surpreendido pelo curador de fotografia da Pinacoteca do Estado, Diógenes Moura, com um comentário: “você sabia que faz 40 anos que foi publicado o livro Viagem pelo Fantástico, de Boris Kossoy?”. Realmente, não tinha me dado conta da data – junho de 1971 –, mas imediatamente indaguei se poderia usar essa informação para escrever aqui no Icônica. Liberado, me questionei: se tenho um bom arquivo, se documento uma cronologia da fotografia brasileira há décadas para manter-me atualizado, por que não faço consultas com regularidade para poderLeia Mais

A internacionalização da fotografia brasileira

Rubens Fernandes Junior | 22.ago.2011

Na semana passada participei como convidado dos Encontros de Agosto, realizado em Fortaleza, iniciativa do Fórum da Fotografia – Ceará. A primeira edição do evento teve como tema geral Fotografia Contemporânea – linguagem e pensamento e contou com seminários, palestras, exposições e workshops. Essas atividades buscaram refletir as questões próprias da fotografia, em particular sua inserção no campo das artes. Minha participação se deu através de uma rápida palestra denominada A internacionalização da fotografia brasileira, a partir de uma provocação feita por Tiago Santana. Aliás, essa provocação gestou um novoLeia Mais

Blanche, o monstro libidinoso

Ronaldo Entler | 5.jun.2011

Antes que existisse uma biologia capaz de pensar a “vida” como função abstrata, lembra Foucault, havia apenas uma história natural interessada nos “seres vivos”, suas formas, suas tipologias. Ele completa: “fazer a história de uma planta ou de um animal era tanto dizer quais são seus elementos ou seus órgãos, quanto as semelhanças que se lhe podem encontrar, as virtudes que se lhe atribuem, as lendas e as histórias com que se misturou” (Foucault, As palavras e as coisas). O conhecimento consolidado buscava os traços e comportamentos médios que definiamLeia Mais

Darwin e a fotografia

Ronaldo Entler | 17.out.2010

Neste fim de semana, assisti ao filme “Creation” (2009), recorte da biografia de Charles Darwin centrado nas dificuldades que enfrentou quando finalizava A origem das espécies (1859). Vemos ali um personagem debilitado por uma doença desconhecida, atormentado pela morte de uma filha, e em conflito com os valores cristãos de sua comunidade e de sua família. Numa das primeiras cenas, sua filha Annie está num estúdio se preparando para ser fotografada. Darwin lhe explica como funciona a técnica. Enquanto o fotógrafo tenta fotografar a menina, ela parece mais interessada nasLeia Mais
No dia 17 de janeiro de 1840, seis meses após o anúncio oficial do advento da fotografia, uma experiência de daguerreotipia foi realizada no Largo do Paço Imperial na cidade do Rio de Janeiro, pelo abade Louis Compte. Sabemos pelos anúncios dos jornais da época que no navio-escola L’Orientale, viajava o Abade Compte encarregado de propagar o advento da fotografia ao mundo. Suas experiências foram realizadas em Salvador, em dezembro de 1839, no Rio de Janeiro e em Buenos Aires, mas apenas o daguerreótipo de 17 de janeiro, tomado noLeia Mais

A primeira notícia sobre a fotografia

Ronaldo Entler | 16.nov.2009

O artigo, escrito pelo jornalista Hippolyte Gaucheraud, adota uma postura empolgada e quase propagandística, apesar de expor algumas limitações técnicas da nova imagem. Responde provavelmente a uma estratégia de divulgação e afirmação do daguerreótipo articulada por Daguerre e o político e cientista François Arago, que defendeu a descoberta junto ao poder público Francês. É interessante – apesar de óbvio – notar a falta de um vocabulário para descrever a fotografia, e o modo como o autor se esforça com termos ligados à pintura, ao desenho e à gravura para explicar ao públicoLeia Mais
Amanhã (09/11) começa o IV SEMINÁRIO ARTE CULTURA E FOTOGRAFIA: MEMÓRIA, OUTROS DEBATES, na ECA-USP. A programação está ótima, com o mérito de abrir espaço para jovens pesquisadores e de aproximar da fotografia críticos e teóricos que não são os nomes mais recorrentes desse campo. Queria indicar uma apresentação, em especial: A fotografia de espíritos no Brasil: uma iconografia do outro mundo, de Mario Ramiro, programada para o dia 10/11. Mario Ramiro é um artista irriquieto que integrou no final dos anos 70 o coletivo 3 nós 3, junto comLeia Mais

25 anos de A ILUSÃO ESPECULAR

Rubens Fernandes Junior | 27.out.2009

O Brasil não gosta de efemérides. Muito menos de discutir mecanismos de preservação e conservação de informações que pertencem à nossa história. Ou até mesmo as reedições são raras em nossa história do livro, particularmente do livro de fotografia. Acreditamos até o último momento que alguma editora pudesse fazer uma nova edição deste clássico da fotografia brasileira. O livro A Ilusão Especular – Introdução à Fotografia, de Arlindo Machado,  foi publicado em 1984, graças a uma ação conjunta entre a Editora Brasiliense e o Instituto Nacional da Fotografia/Funarte, e aoLeia Mais