50 anos do golpe militar de 64
Intervenção urbana proposta por Wendel Medeiros, realizada pelo Coletivo Aparecidos Políticos e pela turma de 2014 da disciplina de Fotografia Experimental da IFCE (Fortaleza, 2014)
Desaparição, desaparição, desaparição
O projeto não é novo, mas é justamente disso que se trata: de não perder certas coisas de vista.
O que vemos nestas imagens são rostos que desaparecem. Assim como muitos de seus corpos nunca foram encontrados, como suas utopias se dissolveram, como as cicatrizes desse tempo traumático vão sendo apagadas.
Ao contrário de outros países da América Latina, cujas marcas produzidas pelas ditaduras ainda são sentidas e investigadas, o processo de anistia no Brasil impôs não apenas o arquivamento dos processos e a anulação das sentenças, mas o esquecimento dos nomes, rostos e gestos dos personagens envolvidos. Porém, ao contrário do que aconteceu com aqueles que atuaram nos aparelhos da ditadura, muitos dos que foram presos e torturados não voltaram às suas casas e às suas rotinas.
Na mesma medida em que esses rostos desaparecem, algumas vozes insanas reaparecem nas ruas invocando a ditadura. Muitas informações estão definitivamente perdidas, mas encarar a desaparição desses rostos se torna uma urgência. Como diz Benjamin, “articular historicamente o passado não significa conhecê-lo como ele de fato foi. Significa apropriar-se de uma reminiscência, tal como ela relampeja no momento de um perigo”.
Não se trata de restituir as perdas, mas buscar nesses processos de desaparição a força crítica de suas reminiscências. Trata-se de convocar esses olhares quase apagados para nos ajudar a enxergar os perigos que estão à frente. [Ronaldo Entler]