WENDEL MEDEIROS | 50 anos do golpe militar de 64

Wendel Medeiros encontra no interesse pela expansão da fotografia meios de operar processos de criação, redes de comunicação e relações inter-humanas. Seu trabalho traz um diálogo com o pensamento visual colaborativo e participativo que aproxima educação, experiência estética e política. Sua pesquisa Fot. Experimental IFCE + 50 ANOS DO GOLPE MILITAR DE 64 é um exemplo de educação como experiência estética. Com seus alunos e em parceria com o coletivo Aparecidos Políticos, o artista-pesquisador-professor entrecruza fotografia, gravura, arte conceitual e arte urbana; investiga suportes, técnicas, materiais e o lugar da arte na atualidade. O registro do trabalho é o resultado de 22 estênceis, impressos sobre papel jornal, com rostos de desaparecidos políticos, durante o regime militar no Brasil (1964-1985) que, uma vez expostos no tecido urbano, sob o efeito da luz solar, iam desvanecendo-se enquanto imagem de representação, dando lugar a um sentido vivo de memória [Apresentação do projeto por Herbert Rolim, professor do Curso de Licenciatura em Artes Visuais do Instituto Federal do Ceará – CLAV/IFCE]
Wendel Medeiros é Professor/Artista/Pesquisador, leciona no Curso de Licenciatura em Artes Visuais – IFCE. Pesquisa processos experimentais que promovem o diálogo entre fotografia, desenho e gravura. Participou do Festival de Arte Urbana Concreto segunda edição; Manifesta Festival das Artes 2015, Mostra SESC CARIRI de Culturas 2015 e Exposição CONTER 2016.
50 anos do golpe militar de 64
Intervenção urbana proposta por Wendel Medeiros, realizada pelo Coletivo Aparecidos Políticos e pela turma de 2014 da disciplina de Fotografia Experimental da IFCE (Fortaleza, 2014)
Desaparição, desaparição, desaparição
O projeto não é novo, mas é justamente disso que se trata: de não perder certas coisas de vista.
O que vemos nestas imagens são rostos que desaparecem. Assim como muitos de seus corpos nunca foram encontrados, como suas utopias se dissolveram, como as cicatrizes desse tempo traumático vão sendo apagadas.
Ao contrário de outros países da América Latina, cujas marcas produzidas pelas ditaduras ainda são sentidas e investigadas, o processo de anistia no Brasil impôs não apenas o arquivamento dos processos e a anulação das sentenças, mas o esquecimento dos nomes, rostos e gestos dos personagens envolvidos. Porém, ao contrário do que aconteceu com aqueles que atuaram nos aparelhos da ditadura, muitos dos que foram presos e torturados não voltaram às suas casas e às suas rotinas.
Na mesma medida em que esses rostos desaparecem, algumas vozes insanas reaparecem nas ruas invocando a ditadura. Muitas informações estão definitivamente perdidas, mas encarar a desaparição desses rostos se torna uma urgência. Como diz Benjamin, “articular historicamente o passado não significa conhecê-lo como ele de fato foi. Significa apropriar-se de uma reminiscência, tal como ela relampeja no momento de um perigo”.
Não se trata de restituir as perdas, mas buscar nesses processos de desaparição a força crítica de suas reminiscências. Trata-se de convocar esses olhares quase apagados para nos ajudar a enxergar os perigos que estão à frente. [Ronaldo Entler]