Rapid Eye Movemente | Bababadalgharaghtak-amminarronnkonnbronntonnerronntuonnthunn-trovarrhounawnskawntoohoohoordenenthurnuk!
Às vezes, um gesto que diríamos ser estranho à fotografia pode revelar outra parte de sua natureza: antes de ser “técnica”, a fotografia é “imagem” e, como tal, não resiste à sua vocação de vasculhar o que está além do visível. O estranho, como nos lembra Freud, não é o que está absolutamente distante. Ele tem a ver com o lapso que permite enxergar a si mesmo como outro, uma fissura por onde transborda aquilo que foi preciso alienar para forjar uma identidade.
Foi necessário recalcar um tanto do imaginário para supor que a fotografia caberia num instante captado das aparências do real. O olhar que insiste em durar sobre essa imagem sabe que ela é feita de muitas camadas. E aqui, particularmente, vemos um gesto extenso de criação que escava e revolve sua superfície para libertar fantasmas que o pensamento técnico desejou um dia esconder.
Este trabalho é feito da sobreposição de procedimentos, imagens e idiomas, mas também de tempos distintos: há nele algo do atrevimento técnico das vanguardas; há a visão de uma natureza obscura, ao mesmo graciosa e violenta, que é própria das sociedades arcaicas; e, claro, há muito do universo dos sonhos, essa que foi provavelmente a primeira imagem que experimentamos na vida.
[Ronaldo Entler]
Rapid Eye Movement (2012-14) e Bababadalgha-raghtak(…)! (2014) são duas séries criadas a partir de experimentações com a fotografia. Os trabalhos de Samy Sfoggia são resultado de um extenso processo de construção que envolve, além de imagens de seu acervo, apropriação, colagem e desenho, entre outros procedimentos. Suas pesquisas estabelecem também um forte diálogo com o cinema e com a literatura. Os títulos das séries, assim como das obras, são retirados de livros publicados em diversos idiomas.