Autor: Rubens Fernandes Junior

Jornalista, curador e crítico de fotografia, doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, professor e diretor da Faculdade de Comunicação da Fundação Armando Alvares Penteado (Facom-FAAP).

A experiência da Revista Bondinho

Rubens Fernandes Junior | 4.fev.2017

Sou “revisteiro” assumido e já declarei minha paixão pelas revistas, principalmente por aquelas que fizeram história e hoje estão quase esquecidas pelas novas gerações. Gostaria de recuperar um título pouco conhecido cuja experiência é importante para entendermos algumas das articulações desencadeadas nos anos 1970 para a sobrevivência do jornalismo sério e competente em plena ditadura. Trata-se da revista Bondinho, de periodicidade quinzenal, editada  por Arte & Comunicação, que também editava a Grilo, de quadrinhos, e a Revista de Fotografia. Inicialmente Bondinho foi patrocinada pelo Grupo Pão de Açúcar que aLeia Mais

Lily Sverner – Para ver sem pressa

Rubens Fernandes Junior | 5.ago.2016

Sem dúvida, Lily Sverner é uma artista que pertence a seu tempo; um tempo presente condicionado pelos ecos do passado. Ela vê o mundo sem pressa. Vê e registra seu momento como se buscasse suspender a passagem do tempo. Cada uma das suas fotografias parece muito mais com um fluxo contínuo de lembranças vividas com intensidade. Para ela, a fotografia se tornou uma fantástica ferramenta para exaltar o que surge e desaparece na incrível velocidade cotidiana. Mas, Lily não tem pressa. Em suas imagens nos deparamos com a interrupção deLeia Mais

Caio Prado Jr. fotógrafo

Rubens Fernandes Junior | 26.abr.2016

Recentemente tive acesso ao livro Caio Prado Jr – o legado de um saber-fazer histórico, editado em 2013 pela Hucitec e organizado por Antonio Gilberto R. Nogueira e Adelaide Gonçalves, ambos professores do Departamento de História e do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Ceará. A edição é composta de 7 ensaios e uma preciosa cronologia. O ensaio que chamou minha atenção é assinado pelo Antonio Gilberto R. Nogueira, denominado “O Nordeste em diapositivo: o viajante, o fotógrafo e a escrita da história”. Antonio Gilberto torna público,Leia Mais

Travessias

Rubens Fernandes Junior | 6.jul.2015

German Lorca é, seguramente, uma das poucas unanimidades na fotografia brasileira. Sua obra pode ser entendida por meio das diversas travessias que percorreu ao longo de sua extensa trajetória, em busca de imagens que agradassem seu espírito inquieto e seu olhar curioso. Uma obra que nos faz ver o visível através de uma gênese inspirada diante do mágico espetáculo da vida cotidiana. Da primeira experiência com a fotografia, em meados dos anos 1940, ainda muito jovem, até sua última série, Geometria das Sombras, realizada em 2014, podemos vislumbrar algumas característicasLeia Mais

Sergio Jorge: múltiplas trajetórias

Rubens Fernandes Junior | 3.jun.2014

Desde o início, no Foto Cine Clube de Amparo, em 1952, até hoje no Jorge’s Estúdio, muitas imagens passaram pelos olhos de Sérgio Jorge, um dos grandes mestres da fotografia brasileira. Claro, nem todas as imagens se viabilizaram fotograficamente – parte delas ficou fixada apenas em sua memória e outra parte se transformou em relevantes documentos iconográficos da história do Brasil. Impossível conhecer alguns do principais momentos da história da nossa fotografia e do nosso país sem passar por algumas de suas imagens, como por exemplo, o primeiro Prêmio EssoLeia Mais

Moderna para Sempre: Foto Clube Bandeirante

Rubens Fernandes Junior | 5.fev.2014

Depoimento concedido ao Itaú Cultural sobre o Foto Clube Bandeirante, em torno da exposição Moderna para Sempre – Fotografia Modernista Brasileira na Coleção Itaú Cultural.Leia Mais

Fotografia e metalinguagem

Rubens Fernandes Junior | 23.out.2013

Tenho muita curiosidade pelas fotografias que remetem à própria fotografia. Dedico uma atenção especial a essas imagens que coleto aleatoriamente em sebos e outros espaços e que reúnem dados que alguém julgou sem importância. Mas sempre busco questionar a fotografia que fala dela mesmo. Quais critérios estabelecer para buscar na imagem alguma “centelha do acaso” que remeta à própria fotografia? Os limites que demarcam essas possibilidades geralmente são nebulosos e quase sempre subjetivos. Mesmo assim, venho colecionando fotografias que de alguma forma “falam” da própria fotografia. Em seu importante estudoLeia Mais

Ver é inquietar-se

Rubens Fernandes Junior | 23.set.2013

Num momento em que a visibilidade e a transparência da comunicação determinam o quanto somos reconhecidos nos diferentes grupos em que atuamos, não deixa de ser interessante pensar no velho cartão postal como uma mídia aberta, com imagem e texto, que circulou livremente durante décadas mundo afora. Hoje, foi substituído pelos aplicativos tipo Instagram, WhatsApp, entre outros, locais de livre e imediata circulação de imagens e textos. Sou colecionador de cartões postais e, de tempos em tempos, eu me surpreendo com mensagens inscritas no verso dos cartões, que operam comoLeia Mais

Coisas como elas são

Rubens Fernandes Junior | 11.jun.2013

Foi uma revolução quando Edwin Land, em 1947, apresentou ao mundo o pioneiro processo fotográfico instantâneo: a Polaroid. Curiosamente, um pouco antes disso e nos primeiros anos de atividade de sua empresa, convidou diversos artistas para testarem as câmeras e os filmes que seus engenheiros criavam no laboratório. Mais uma vez, a arte e a ciência estavam juntas, mas desta vez sem restrições e questionamentos. O processo colaborativo intencionava testar a qualidade da imagem e buscar alternativas que pudessem contemplar o desejo humano de acelerar processos e agilizar a comunicação.Leia Mais

Referências cruzadas – outras luzes (II)

Rubens Fernandes Junior | 21.maio.2013

Eu não sei com precisão quando surgiu meu interesse por uma informação qualquer que “cerque” a fotografia. Lembro-me bem das embalagens que utilizava há mais de 30 anos em minhas atividades e que tinham alguma importância à medida que, em cada filme e em cada caixa de papel fotográfico, percebia diferenças entre cores, tipos gráficos e design. Isso identificava os produtos que nos idos dos anos 1970 eram de marcas bem distintas. Além disso, os anúncios publicados nas revistas Iris, Fotóptica, Cinótica e a do Foto Cine Bandeirante eram bemLeia Mais

Os postais efêmeros da enigmática Série F

Rubens Fernandes Junior | 7.maio.2013

O que significa para a cronologia da fotografia apresentar novos nomes e fatos que poderão trazer mais consistência à sua história? Evidentemente, os novos dados são sempre bem vindos, mas não podemos esquecer que muitas vezes eles nascem relacionados a uma experiência vivida, relatada oralmente por aqueles que participaram do processo. À medida que nos distanciamos no tempo, algumas dessas iniciativas se valorizam, outras se perdem nas sombras do esquecimento, e temos aquelas que vão se manifestando aos poucos, até encontrar o momento exato para se tornarem públicas. Como muitosLeia Mais

Revistas – papéis efêmeros

Rubens Fernandes Junior | 23.abr.2013

Já declarei minha fissura por revistas. De preferência as mais antigas, editadas entre 1940 e 1970 no Brasil, período em que a fotografia brasileira começa a se libertar da visão que a toma como representação objetiva dos fatos para, aos poucos, ser entendida como uma forma de expressão daqueles que dela se utilizavam. Recentemente completei minha coleção da revista Mirante das Artes, etc, editada por Pietro Maria Bardi para alavancar sua galeria de mesmo nome, localizada à rua Estados Unidos, 1494. Com 12 edições e periodicidade bimestral, iniciou seu percursoLeia Mais

Referências cruzadas – outras luzes

Rubens Fernandes Junior | 2.abr.2013

Inúmeras vezes declarei meu desejo de publicar uma história da fotografia a partir de imagens que venho colecionando há anos. Minha impressão é de que centenas (ou seriam milhares?) de fotografias vagam dispersas pelo mundo do acaso e clamam para serem reunidas de outra maneira, a fim de nos oferecer um outro olhar sobre o documento fotográfico. Como pesquisador atento, vibro com cada imagem que salta expressiva de um álbum familiar ou até mesmo de um conjunto aleatório reunido numa velha caixa de sapatos. Acredito que os arquivos institucionalizados sãoLeia Mais
Por ocasião da terceira edição do Festival de Fotografia de Tiradentes, realizado entre 4 e 10 de março, tive o prazer de me encontrar diariamente com Maureen Bisilliat que acompanhava a montagem de sua exposição Adesão: Junção/Ligação/União – fotografias escolhidas para transformação. Achou estranho e longo o título? Na verdade, foi surpreendente para todos nós como Maureen, no alto dos seus 82 anos, mostrava sagacidade e talento para provocar a mais excitante experiência fotográfica do festival. A exposição montada no espaço do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional)Leia Mais
Num lance de dados, Mallarmé, poeta e esteta do século XIX afirmou que tudo no mundo existe para terminar em livro. Susan Sontag em um dos seus ensaios reforçou essa ideia adiantando que tudo termina em fotografia. Com boa dose de precisão, hoje é possível ampliar ainda mais a ideia e afirmar que tudo terminará num livro de fotografia. O sonho de todo fotógrafo é ver o seu trabalho editado e publicado em livro. Afinal, o livro bem impresso e acabado mostra um momento de maturidade profissional do autor eLeia Mais

Colecionador de Olhares Desaparecidos [parte 3]

Rubens Fernandes Junior | 26.nov.2012

Recentemente, fiz uma incursão pela minha coleção de retratos anônimos feitos por fotógrafos desconhecidos, e que venho denominando de “olhares desaparecidos dos desconhecidos íntimos”. É sempre uma grata surpresa rever estas fotografias, sentir a naturalidade do fotografado diante do dispositivo e se deparar não só com uma harmoniosa relação de luz e sombra, mas também com uma desavergonhada e teatralizada emoção.Leia Mais
É sempre muito difícil escrever sobre o trabalho de uma pessoa muito querida e admirada como Nair Benedicto. Seu nome reina solitário na constelação da fotografia brasileira e está inscrito na história como uma autora engajada na grande aventura humana. Sua fotografia sempre foi politizada e independente, lírica e amorosa, suficientemente forte. Avassaladora. O livro – VI VER, editado por ocasião do FestFotoPOA – é uma oportunidade para a nova geração conhecer melhor sua trajetória, e se surpreender com a edição das imagens que espelha os dilemas centrais da políticaLeia Mais

O silêncio e a passividade de um novo começo

Rubens Fernandes Junior | 23.out.2012

Os tios mais velhos reclamam porque nunca poderão ver aquelas centenas de fotografias produzidas em uma festa familiar. Em contrapartida, as crianças se deliciam com o imediatismo das múltiplas telas luminosas que mostram essas mesmas fotografias reclamadas passando de mão em mão. Enfim, o clássico conflito de gerações entre os mais velhos e os mais jovens, só que desta vez muito mais acentuado, uma vez que exige algum domínio técnico e demais complexidades. Na verdade, existe entre eles uma enorme diferença perceptual que envolve justamente o ato de fotografar (ritualLeia Mais

Entre Morros – excesso de referência e abstração

Rubens Fernandes Junior | 1.out.2012

A cada novo ensaio fotográfico de Claudia Jaguaribe nos deparamos com reinvenções que buscam sintonizar suas inquietações visuais com os desafios da contemporaneidade. Viver hoje exige, antes de tudo, estar antenado diante da multiplicidade das ações simultâneas que nos cercam e do ritmo acelerado imposto pelas tecnologias que nos empurra para um estado de dúvida e indeterminação. Afinal, como sobreviver e como se inserir criativamente nessa situação de permanente incerteza? É com essa perspectiva que podemos avaliar seu livro mais recente, Entre Morros, editado pela Cosac Naify que traz aindaLeia Mais
Na tarde do último domingo de junho de 1994, ao chegar em Nova York, eu me dirigi rapidamente ao Whitney Museum para aproveitar os últimos momentos da exposição  Evidence 1944 – 1994, de Richard Avedon, que encerrava sua temporada. Foi ali que me deparei com o nome da Bea Feitler (1938–1982) associado à fotografia, em particular, com o projeto do livro Diary of a Century, diário fotográfico de Jacques-Henri Lartigue, organizado por Avedon e publicado em 1970. Já conhecia a obra mas, até então, não sabia que esse era oLeia Mais