Autor: Pio Figueiroa

Fotógrafo e diretor de cena, sua atuação profissional se articula entre a produção fotográfica e a pesquisa teórica em torno desta linguagem.

O Pior é infinito é uma manifestação crítica aos acontecimentos mais recentes na vida de nosso país. São séries desenvolvidas como reação a um Brasil que faz prevalecer as estruturas de exploração inerentes à nossa história, solapando alguns dos lampejos emancipatórios que experimentamos nas últimas décadas. Cada fotografia dessa coleção é uma expressão fragmentária sobre o que percebo vivendo em um estado de golpe. O referente dessa pesquisa são as imagens publicadas nas redes sociais, arena expressiva, imagética e prenhe de sintomas de nossa atualidade. Em uma distância que coloca aLeia Mais
Eis aqui parte do ensaio Dicionário de Favelas, que integra o livro Fotograficamente Rio – a cidade e seus temas. Uma organização da historiadora e professora da Universidade Federal Fluminense, Ana Maria Mauad*. Trabalho que fiz em parceria com Mariana Lacerda**. Em 2013, subimos o morro de Santa Marta, na zona sul do Rio de Janeiro, acompanhados por Vitor Lira, um morador da parte mais alta do morro, do local conhecido como Pico. Vitor então líder da Comissão de Moradores do Pico do Santa Marta que se organizou para lutar pela manutençãoLeia Mais
Adelaide Ivánova escreve. Escreve com tanta frequência, produz tanto, que, penso, escreve até mais do que vive. Seu texto é urgente, imediato. Sempre com um gosto de uma conversa impulsiva. Suas palavras me chegam radiosas, incontroláveis; ora machucadas, arranhadas, escapulidas de uma ebulição qualquer. Mas este post aqui, na verdade, é sobre um outro matiz de seu trabalho, um livro de fotografias recentemente publicado. Primeiras lições de hidrologia – e outras observações é, ao mesmo tempo, um álbum de família e um guia crítico do Recife. Adelaide mostra uma cidadeLeia Mais

Meio dia*

Pio Figueiroa | 5.ago.2015

É meio dia, debaixo do sol. Tamanha claridade muda o estado das coisas. Fecham-se os olhos para conter a luz que chega a cegar. Aos poucos, ela atravessa as pálpebras que, agora translúcidas, ganham tom quente. Permanece-se assim e, aos poucos, relaxa-se a face, a testa não mais se contrai. É uma forma de acalmar o excesso do sol. Abrem-se os olhos, o mundo torna-se plácido e a luminosidade se equilibra aos poucos, até o visível mostrar contornos. Surge uma opacidade, uma maresia. A cor de um certo desgaste seLeia Mais

Ao vô Manoel

Pio Figueiroa | 20.jul.2015

São Paulo, 24 de junho de 2015. Oi vô, nesta carta, é a você que quero expressar minha percepção sobre uma pesquisa recente que compõe a exposição Ver do Meio. Sinto que você desenhou a minha vida desde que deixou Jurema, fugido pelas discórdias na política. Em Gravatá, para onde levou a família, sua filha – minha mãe – conheceu meu pai. Meu pai descendente de italianos: Calábria Lapenda. Eu nasci em Recife. Adulto, parti para São Paulo. Devo falar aqui sobre migração e lembrei da gente. Em mim moraLeia Mais
No próximo dia 27 de maio, entra em cartaz a exposição Ver do Meio, um trabalho de Nelson Brissac, que provocou três fotógrafos a apreender uma cidade que “não se dar a ver”. Faço parte desse grupo ao lado de Arnaldo Pappalardo e Mauro Restiffe. São Paulo, com sua trama urbana que não garante precisões, nos levou a uma fotografia que se fez na rua, no embate do corpo com a cidade. Nelson Brissac publica aqui no Icônica  seu texto curatorial acompanhado de algumas imagens que estarão expostas. © Arnaldo Pappalardo   VerLeia Mais

Voto de Ana

Pio Figueiroa | 3.maio.2015

“Tudo se finge, primeiro; germina autêntico é depois”, Guimarães Rosa em seus últimos escritos, publicado em 1967 no Tutaméia Na última Bienal de São Paulo (2014), a fotógrafa Ana Lira expôs “Voto”, obra que foi oportunamente coligida num livro homônimo e que veio à luz sob o selo da Pingado Prés. É de se louvar o esforço dessa editora responsável por dar forma de livro às boas ideias, ela que, seguramente, merece o olhar de quem deseja publicar fotografias. No pavilhão da Bienal, a obra ganhou em escala ao ser firmada sobreLeia Mais
O ensaio Recontro, 2014, de Lívia Aquino, faz-se pensar por pelo menos dois movimentos. O primeiro forma-se pela luz invasora que deixa as imagens com o aspecto de desenhos que despertam das expressões que somam-se, uma a uma, constituindo a série. O outro, a saber, é aquele em que as pessoas aparecem ou quase desaparecem, após dedicarem miradas, olhares desconcertantes, deixando claro que a fotógrafa estava lidando com o desconforto dado pelo real sentido de ser estrangeira, mais que isso, exótica àquelas ruas. Fotografamos assim: ali a cena, estamos daqui, parte observadores e,Leia Mais
Severo me contou que, certa vez, fotografava os sertanejos. De início pretendia um retrato em fundo branco para unir todos os tipos de lá em um único padrão fotográfico e, assim, tirá-los da paisagem que naturalmente os cerca. Seria uma homenagem ao homem, o ser humano do sertão. Abrir o quadro da câmera para organizar o pretendido retrato fez surgir o aparato que o assessorava. Luzes, panos, tripés. No meio deles, lá no centro, o tipo de lá do sertão. No gesto de um sem querer, Severo viu o retratado,Leia Mais

A sombra da escrita

Pio Figueiroa | 14.jul.2014

Um tempo querendo escrever algo para um post, mas venho sendo atrapalhado pela pulsão de fotografar. É curioso, a intensidade de fotografar dispersa-me da capacidade de escrever. Tem estratégias nessas duas atividades que não se combinam, não se permitem. A fotografia é mundana, ágil, externa. Deixa trancada o que é a necessária introspecção. Tem parte com ver de perto, sem muito ritmo para aquele espaço de diálogo da escrita, aquele consigo; da linguagem com o pensamento; o de conceber na medida que escolhem-se as palavras. Tenho feito fotografia no campoLeia Mais

Carta a Rodrigo, de Valparaíso

Pio Figueiroa | 2.maio.2014

São Paulo, 29 de abril de 2014. Querido Rodrigo Gomez Rovira, Há tempos queria tê-lo escrito para falar de mim. Voltei às pressas de sua cidade tentando resolver o fim de uma história profissional construída em grupo, que me colocou, abruptamente, em uma nova trajetório de trabalho. Uma saída corrida em busca do que não havia jeito… Não escrevi antes. Esperava ter coragem, esperava o tempo que você merecia para saber sobre a minha volta tão rápida a São Paulo. Mas há poucos dias vi a sua cidade pela notíciaLeia Mais

Em pleno salto

Pio Figueiroa | 7.abr.2014

O Icônica é um lugar que fomenta o meu discurso. De certa forma, uma foto que carrego no bolso e me ajuda a achar sentidos nas coisas que procuro – e me são caros os achados. Aqui, um céu torna-se possível: os espaços vazios da minha pesquisa se veem provocados quando não preenchidos pelo que esta constelação ilumina. Pensando em um primeiro post, escrevi um pouco sobre um estado recente em que tenho vivido. Sinto-me assim em uma espécie de fotografia, com a vida provisoriamente suspensa e dispersa em umaLeia Mais