Tema: História e arqueologias

A primeira câmera de vigilância

Ronaldo Entler | 12.jun.2018

Sob o título “Cuidado com o Daguerreotypo”, o jornal português O Recreio trouxe, em 1841, o relato de um evento ocorrido supostamente na França em que um assaltante foi identificado de forma um tanto inusitada, graças à fotografia. O texto é representativo de uma percepção muito rapidamente disseminada no século XIX: primeiro, de que a fotografia é uma imagem que não depende da intervenção humana; segundo, de que, por isso mesmo, ela constitui um testemunho irrefutável. Mas esse texto, que ilustra em tom irônico o compromisso da fotografia com a verdade,Leia Mais

A experiência da Revista Bondinho

Rubens Fernandes Junior | 4.fev.2017

Sou “revisteiro” assumido e já declarei minha paixão pelas revistas, principalmente por aquelas que fizeram história e hoje estão quase esquecidas pelas novas gerações. Gostaria de recuperar um título pouco conhecido cuja experiência é importante para entendermos algumas das articulações desencadeadas nos anos 1970 para a sobrevivência do jornalismo sério e competente em plena ditadura. Trata-se da revista Bondinho, de periodicidade quinzenal, editada  por Arte & Comunicação, que também editava a Grilo, de quadrinhos, e a Revista de Fotografia. Inicialmente Bondinho foi patrocinada pelo Grupo Pão de Açúcar que aLeia Mais

:-) Rostos

Ronaldo Entler | 18.jul.2016

Precisamos de muito pouco para ver um rosto. Rapidamente, dois pontos num espaço vazio tornam-se olhos. Quantas vezes, rabiscando à toa num pedaço de papel, essa forma nos apareceu quase que por conta própria?Leia Mais

O Passo dos Elefantinhos [Os falsos falsos #2]

Mauricio Lissovsky | 13.jul.2016

Isso foi no “tempo do Raj” – no tempo do vice-rei que representava o domínio imperial britânico sobre a Índia. Esperava-se que os príncipes da Índia o visitassem, periodicamente. Nessas ocasiões, nada de importante realmente se decidia, perdoavam-se impostos e anistiavam-se presos, no máximo. Na realidade, tais reuniões não passavam de uma confirmação cerimoniosa da soberania da Coroa Britânica sobre a Índia. O maior desses príncipes inidanos era Mahbub Ali Kahn, o sexto Nizam de Haiderabade. Numa manhã de segunda-feira, na década de 1880, o Nizam chegou a Delhi, emLeia Mais

Os falsos falsos #1

Mauricio Lissovsky | 13.jun.2016

Inicio hoje, aqui no Icônica, uma série que pretendo sustentar por um algum tempo. É sobre minha pequena coleção de arte gráfica e pintura. Dito assim, parece coisa “chique”, mas não é, realmente. Há alguns anos comecei a comprar em leilões na internet obras de autoria desconhecida, sem assinatura ou com assinatura dita “indecifrável”. Não compro qualquer coisa. Apenas o que gosto ou o que me atrai, por alguma razão que nem sempre está clara para mim no momento da aquisição. Imagino que boa parte do que circula por aíLeia Mais

Caio Prado Jr. fotógrafo

Rubens Fernandes Junior | 26.abr.2016

Recentemente tive acesso ao livro Caio Prado Jr – o legado de um saber-fazer histórico, editado em 2013 pela Hucitec e organizado por Antonio Gilberto R. Nogueira e Adelaide Gonçalves, ambos professores do Departamento de História e do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Ceará. A edição é composta de 7 ensaios e uma preciosa cronologia. O ensaio que chamou minha atenção é assinado pelo Antonio Gilberto R. Nogueira, denominado “O Nordeste em diapositivo: o viajante, o fotógrafo e a escrita da história”. Antonio Gilberto torna público,Leia Mais

Ao vô Manoel

Pio Figueiroa | 20.jul.2015

São Paulo, 24 de junho de 2015. Oi vô, nesta carta, é a você que quero expressar minha percepção sobre uma pesquisa recente que compõe a exposição Ver do Meio. Sinto que você desenhou a minha vida desde que deixou Jurema, fugido pelas discórdias na política. Em Gravatá, para onde levou a família, sua filha – minha mãe – conheceu meu pai. Meu pai descendente de italianos: Calábria Lapenda. Eu nasci em Recife. Adulto, parti para São Paulo. Devo falar aqui sobre migração e lembrei da gente. Em mim moraLeia Mais

Travessias

Rubens Fernandes Junior | 6.jul.2015

German Lorca é, seguramente, uma das poucas unanimidades na fotografia brasileira. Sua obra pode ser entendida por meio das diversas travessias que percorreu ao longo de sua extensa trajetória, em busca de imagens que agradassem seu espírito inquieto e seu olhar curioso. Uma obra que nos faz ver o visível através de uma gênese inspirada diante do mágico espetáculo da vida cotidiana. Da primeira experiência com a fotografia, em meados dos anos 1940, ainda muito jovem, até sua última série, Geometria das Sombras, realizada em 2014, podemos vislumbrar algumas característicasLeia Mais

Desmonumentalizar a ditadura [parte 2]

Mauricio Lissovsky | 30.mar.2015

Desde o fim da ditadura, o “torturado” foi a primeira e mais perene encarnação de suas vítimas. E, no entanto, nas duas décadas que se seguiram ao fim da ditadura, nenhuma outra figura foi tão cercada de silêncios: silêncio a respeito dos torturadores, igualmente protegidos pela anistia; silêncio dos torturados, em virtude do trauma e do receio de que fossem considerados “delatores” de seus companheiros; silêncio em virtude de que seu testemunho, preso ao passado, não servisse ao futuro; silêncio em torno da derrota da luta armada – da qualLeia Mais

Desmonumentalizar a ditadura [Parte 1]

Mauricio Lissovsky | 3.fev.2015

Em 2014, o Brasil esteve às voltas com duas efemérides: a Copa do Mundo e o cinquentenário do golpe militar. A realização da primeira supunha a construção ou reforma de várias arenas esportivas; a celebração do segundo, por sua vez, a construção de memoriais e monumentos em homenagem às vítimas da ditadura. Os estádios ficaram prontos e funcionaram bastante bem, a despeito das previsões pessimistas e dos protestos esporádicos contra os gastos excessivos. Já os memoriais, museus e monumentos planejados não viram a luz do dia. O último projeto deLeia Mais
Dentro da tradição das academias de arte, o retrato sempre teve um lugar relativamente digno, um pouco abaixo da pintura de cenas históricas, mas acima da paisagem e da natureza morta. Distante da concepção institucionalizada de arte que resultou nessa hierarquização, o retrato tinha também uma função utilitária: era parte de rituais que permitiam dar ao sujeito uma posição social de destaque e gerir a memória que seria deixada para a posteridade. É o mesmo ritual que a fotografia veio a popularizar no século XIX, dando ao pequeno burguês a chanceLeia Mais

Sergio Jorge: múltiplas trajetórias

Rubens Fernandes Junior | 3.jun.2014

Desde o início, no Foto Cine Clube de Amparo, em 1952, até hoje no Jorge’s Estúdio, muitas imagens passaram pelos olhos de Sérgio Jorge, um dos grandes mestres da fotografia brasileira. Claro, nem todas as imagens se viabilizaram fotograficamente – parte delas ficou fixada apenas em sua memória e outra parte se transformou em relevantes documentos iconográficos da história do Brasil. Impossível conhecer alguns do principais momentos da história da nossa fotografia e do nosso país sem passar por algumas de suas imagens, como por exemplo, o primeiro Prêmio EssoLeia Mais

Canal do Panamá

Mauricio Lissovsky | 13.maio.2014

Hervé Guibert havia enviado uma pequena carta a Roland Barthes, pedindo para tirar um retrato do escritor em companhia da mãe. Barthes quase não saía de casa naquela época, desdobrando-se em cuidar da matriarca, já bem doente. Tocava piano, confortando-a. Não obteve resposta.  Passada pouco mais de uma semana, ligou para saber se a carta havia chegado. Era sempre a mãe que atendia o telefone. Desta vez foi o filho: “E você não sabe que ela morreu faz dez dias?” Não sabia. Sua carta havia chegado à casa de Barthes,Leia Mais

Moderna para Sempre: Foto Clube Bandeirante

Rubens Fernandes Junior | 5.fev.2014

Depoimento concedido ao Itaú Cultural sobre o Foto Clube Bandeirante, em torno da exposição Moderna para Sempre – Fotografia Modernista Brasileira na Coleção Itaú Cultural.Leia Mais

O fantasma de Baudelaire

Ronaldo Entler | 11.dez.2013

Há algumas semanas, foi divulgado um retrato feito no século XIX de um certo Sr. Arnauldet, e que deixa aparecer ao fundo um intruso que foi identificado como sendo Baudelaire. Foi Serge Plantureux, marchand de fotografias de Paris, quem adquiriu essa imagem e, a partir de alguns dados levantados na Biblioteca Nacional da França, convenceu-se de que eram grandes as chances de se tratar mesmo daquele poeta. O modo hesitante como espia a performance do fotógrafo e do fotografado denuncia sua consciência de estar onde não deveria. Resta um corpoLeia Mais

Fotografia e metalinguagem

Rubens Fernandes Junior | 23.out.2013

Tenho muita curiosidade pelas fotografias que remetem à própria fotografia. Dedico uma atenção especial a essas imagens que coleto aleatoriamente em sebos e outros espaços e que reúnem dados que alguém julgou sem importância. Mas sempre busco questionar a fotografia que fala dela mesmo. Quais critérios estabelecer para buscar na imagem alguma “centelha do acaso” que remeta à própria fotografia? Os limites que demarcam essas possibilidades geralmente são nebulosos e quase sempre subjetivos. Mesmo assim, venho colecionando fotografias que de alguma forma “falam” da própria fotografia. Em seu importante estudoLeia Mais

Ver é inquietar-se

Rubens Fernandes Junior | 23.set.2013

Num momento em que a visibilidade e a transparência da comunicação determinam o quanto somos reconhecidos nos diferentes grupos em que atuamos, não deixa de ser interessante pensar no velho cartão postal como uma mídia aberta, com imagem e texto, que circulou livremente durante décadas mundo afora. Hoje, foi substituído pelos aplicativos tipo Instagram, WhatsApp, entre outros, locais de livre e imediata circulação de imagens e textos. Sou colecionador de cartões postais e, de tempos em tempos, eu me surpreendo com mensagens inscritas no verso dos cartões, que operam comoLeia Mais

Quantos anjos cabem em uma fotografia?*

Mauricio Lissovsky | 18.jun.2013

Muita gente se espanta que brilhantes filósofos medievais, como Tomás de Aquino e Duns Scotus, tenham dedicado tanto tempo a discutir quantos anjos poderiam dançar na cabeça de um alfinete. Mas, ao contrário do que hoje se supõe, essa pergunta não era despropositada. E debatê-la não era jogar conversa fora. Significava, entre outras coisas, perguntar-se em quantas mínimas partes (“átomos”, dizia-se, em grego) uma substância poderia ser dividida. Tanto que, em 2001, um físico quântico, Anders Sandberg, teve a pachorra de fazer a conta e estimou essa quantidade que 8,6766Leia Mais

Referências cruzadas – outras luzes (II)

Rubens Fernandes Junior | 21.maio.2013

Eu não sei com precisão quando surgiu meu interesse por uma informação qualquer que “cerque” a fotografia. Lembro-me bem das embalagens que utilizava há mais de 30 anos em minhas atividades e que tinham alguma importância à medida que, em cada filme e em cada caixa de papel fotográfico, percebia diferenças entre cores, tipos gráficos e design. Isso identificava os produtos que nos idos dos anos 1970 eram de marcas bem distintas. Além disso, os anúncios publicados nas revistas Iris, Fotóptica, Cinótica e a do Foto Cine Bandeirante eram bemLeia Mais

Os postais efêmeros da enigmática Série F

Rubens Fernandes Junior | 7.maio.2013

O que significa para a cronologia da fotografia apresentar novos nomes e fatos que poderão trazer mais consistência à sua história? Evidentemente, os novos dados são sempre bem vindos, mas não podemos esquecer que muitas vezes eles nascem relacionados a uma experiência vivida, relatada oralmente por aqueles que participaram do processo. À medida que nos distanciamos no tempo, algumas dessas iniciativas se valorizam, outras se perdem nas sombras do esquecimento, e temos aquelas que vão se manifestando aos poucos, até encontrar o momento exato para se tornarem públicas. Como muitosLeia Mais