Tema: Fot. Contemporânea > Autores

A fotografia como teatro da memória*

Mauricio Lissovsky | 4.jun.2012

De onde vêm estas cenas de Luis Gonzalez Palma? Da memória – é fácil responder. O próprio artista nos diz em um texto de apresentação de seu trabalho: “memórias imaginadas”.  Mas que diferença há entre “memórias imaginadas” e nossas recordações vulgares? Mesmo aquelas que a distância no tempo esmaeceu? Walter Benjamin escreveu uma vez que, na hora da morte, isso que passa pela cabeça dos homens são como as figurinhas que colecionava quando criança – figurinhas que envolviam um feixe de balas em forma de palitos. Isto é, são imagensLeia Mais

Wolfgang Tillmans: engenharia do acaso

Ronaldo Entler | 16.abr.2012

As imagens de Wolfgang Tillmans são simples mas, como conjunto, seu trabalho é de difícil apreensão. Não é desses autores que a gente entende buscando referências em livros ou na internet. Quando fazemos isso, fica sempre a impressão de que as imagens não se conectam. Uma exposição panorâmica como a que está agora no Museu de Arte Moderna de São Paulo não muda essa leitura, mas permite constatar o modo como suas imagens efetivamente não se conectam: reconhecemos que o aleatório se constrói ali como uma arquitetura. Não é suficienteLeia Mais

O olhar como performance

Ronaldo Entler | 26.set.2011

A atividade do olhar é normalmente entendida como captação discreta e passiva dos movimentos do mundo. Mas o próprio olhar é movimento, como diz Alfredo Bosi, “com propriedades dinâmicas de energia e calor graças a seu enraizamento nos afetos e na vontade” (“Fenomenologia do Olhar”, 1988. p. 77). Alguns artistas buscam reconhecer os momentos em que o olhar revela sua espessura, em que se torna por si mesmo uma performance, gesto que afeta também aquilo que é visto. Quando o olhar se torna visível, seus vetores compõem um enredo: oLeia Mais
O post anterior se encerrou com a seguinte questão: quais as formas de lidar com a nova escala de produção e circulação de fotografias? A “quantidade” de imagens disponível na era da fotografia digital e da internet parece dar uma nova “qualidade” ao problema, mas os sentimentos que temos diante disso não são propriamente novos, o deslumbramento e a desconfiança são coisas inerentes à qualquer mudança. Por exemplo, dizem que os pintores impressionistas se encantaram com o modo como o mundo se transformava quando visto de dentro de um trem, enquantoLeia Mais
Como parte do projeto Morar, o coletivo Garapa produziu uma série de daguerreótipos de objetos que fazem referência ao Edifício Mercúrio, recentemente demolido no centro de São Paulo. Para essa empreitada que durou uma semana, contaram com a ajuda do fotógrafo Fernando Schmitt, e o know-how de Chico da Costa, maior especialista em daguerreotipia no Brasil. Eu apareci por lá duas vezes para bisbilhotar. Achei que tinha uma boa idéia de como a coisa funcionava, mas é impossível supor as sutilezas do ritual que os daguerreótipos exigem: além de umLeia Mais

O processo de criação como memória

Rubens Fernandes Junior | 5.jul.2011

A exposição Bom Retiro e Luz: um roteiro (1976 – 2011), curadoria de Diógenes Moura, no Centro de Cultura Judaica, traz fotografias de Cristiano Mascaro, Bob Wolfenson, Marlene Bergamo e do Coletivo Cia de Foto. O projeto teve como ponto de partida um ensaio de Cristiano Mascaro, produzido em 1976, especialmente para ser exibido na Pinacoteca do Estado, à época dirigida pela crítica Aracy Amaral, que buscava aproximar comunidade e museu, e criar laços de cultura e identidade. Gostaria de concentrar minha atenção na produção da Cia de Foto –Leia Mais

Rodrigo Braga num sentido extra-moral

Ronaldo Entler | 16.maio.2011

Na semana passada, Rodrigo Braga realizou uma palestra sobre seu trabalho em São Paulo. Uma fala calma, lúcida, em busca das palavras certas, que destoa da erupção de formas violentas que encontramos em seu trabalho. Isso foi uma surpresa? Não propriamente, mas evidenciou certa ansiedade que sua presença desperta. A maioria de nós estava ali porque gosta de seu trabalho. Para alguns, gostar engloba também o reconhecimento de uma “verdade”: sabemos que a violência que fere nossos olhos, passou antes pelo corpo dele próprio. Naquele momento, esse mesmo corpo estavaLeia Mais

Geração 00

Rubens Fernandes Junior | 9.maio.2011

O que poderia trazer de novidade uma exposição que busca ser uma espécie de retrospectiva e síntese do que foi a primeira década do século XXI para a fotografia brasileira? Aparentemente nada. Mas, convenhamos, não dá ficar impassível diante da exuberância desta coletiva. Eder Chiodetto acertou em cheio ao assumir os artistas selecionados como aqueles que, de certa maneira, representam as diferentes possibilidades do fazer fotográfico contemporâneo. Tendências de gêneros e técnicas fotográficas que se fundem para atiçar a sintaxe, que de tempos em tempos precisam ser sacudidas e renovadas.Leia Mais

NAFOTO – Uma experiência coletiva: 1991–2011

Rubens Fernandes Junior | 3.maio.2011

Sábado próximo, dia 7 de maio, a partir das onze horas, na Caixa Cultural Sé, teremos a abertura da exposição coletiva dos 20 anos de atividades do NAFOTO – Núcleo dos Amigos da Fotografia. Coletivo de fotografia que se reúne pioneiramente em 1991 para concretizar um sonho: criar no Brasil um evento internacional de fotografia, valorizar e inserir nossa produção na cena do circuito cultural mundial. Nos dias 17 e 18 de junho próximo será realizado o Seminário “O NAFOTO e a fotografia brasileira”. Ao final da exposição, teremos oLeia Mais

A construção de uma geração

Ronaldo Entler | 19.abr.2011

Geração 00 é uma mostra que assume um grande desafio e, claro, alguns riscos: pensar a produção fotográfica de um período marcado pela liberdade de procedimentos, pela velocidade das mudanças, uma década sem um marco inicial e sem um desfecho evidente, vivida por artistas de formações e idades muito distintas. Seria pretensioso propor o mapa de um território movediço que, se tem uma marca evidente, é a despreocupação com suas fronteiras (aquilo que distingue a fotografia de outras linguagens artísticas e, ainda, aquilo que define cada um de seus usosLeia Mais

Viver o novo e compartilhar emoções

Rubens Fernandes Junior | 14.mar.2011

Como sempre, a cidade de São Paulo oferece muitas opções para quem gosta e aprecia a fotografia. Seja diletante, artista, estudante, pesquisador, crítico de artes visuais, a oferta é sempre muito grande e diversificada nos espaços institucionalizados. Neste momento, a Pinacoteca do Estado, exibe Revolução na Fotografia, de Aleksander Rodtchenko; o Instituto Moreira Salles, Uma Antologia Pessoal, retrospectiva de Thomaz Farkas; a Caixa Cultural, Olhar-Imaginário, de German Lorca; o Instituto Tomie Ohtake, Relicário, de Vik Muniz; o Centro de Cultura Judaica, Marcados, de Cláudia Andujar (abertura prevista para dia 15Leia Mais

João Castilho é mestre

Ronaldo Entler | 25.jan.2011

Em dezembro de 2010, eu postei no Twitter: “João Castilho é mestre”. Várias pessoas concordaram e algumas acrescentaram outros adjetivos. Os elogios eram merecidos, Castilho já demonstrou seu talento como artista, mas minha afirmação era um pouco mais literal. Eu tinha acabado de participar de sua banca de mestrado na Universidade Federal de Minas Gerais, onde ele apresentou a dissertação “A fotografia entrópica de Robert Smithson”. Não é tão óbvio encontrar um artista com vocação e disposição para a pesquisa acadêmica. Ainda vemos bons programas de pós-graduação acolhendo artistas queLeia Mais

O tempo que passa ou a inquietação dos sentidos

Rubens Fernandes Junior | 21.dez.2010

Acompanhei de perto as publicações sobre os 30 anos da morte de John Lennon. Invariavelmente, lembrei-me de uma frase dele que diz mais ou menos assim: “enquanto você sonha com o futuro, sua vida acontece”. Para nós, o tempo passou rapidamente, mas para ele o tempo foi interrompido. Ou parou? Parece incrível! Conhecemos muitas fotografias do Beatle mais talentoso e rebelde, mas fico chocado com a imutável juventude fixada nas imagens. Claro, mito morre cedo e jamais envelhece. E minha geração não só perdeu John Lennon, como também Janis Joplin,Leia Mais
No trabalho que levou à Bienal, Jonathas de Andrade toma como referência uma série de cartazes propostos pelo educador Paulo Freire para a alfabetização de adultos, e estabelece relações entre novas imagens e palavras a partir de conversas que manteve com um grupo de mulheres analfabetas (vejam mais informações no site do artista). Barthes disse uma vez que a língua é fascista, não porque impede de dizer, mas porque obriga a dizer (Barthes, A aula).  Usar uma palavra é filiar-se a uma estrutura cuja tradição espera impor um sentido. Cabe aoLeia Mais

Incubadora

Ronaldo Entler | 12.out.2010

Nesta quinta, dia 14/10, começaremos na Galeria Olido a exposição do Projeto Incubadora, do qual participo junto com Felipe Russo, gUi Mohallem, Breno Rotatori, Pio Figueiroa, Lua Cruz e Lucas Simões. Do que se trata? Quem estiver lá nesse dia, verá uma montagem inacabada de três trabalhos: Welcome Home, do gUi, Sopro, do Breno, e Borda, do Felipe. Também estaremos lá para um bate-papo. A exposição deverá se reconfigurar e, no dia 28/10, haverá uma nova abertura. A principal interface do projeto é um blog, onde se pode acompanhar o desenvolvimentoLeia Mais

Um momento especial para a fotografia

Rubens Fernandes Junior | 4.out.2010

Nunca na história da fotografia, nacional e internacional, vivemos um momento tão intenso como este. Pelo fato da fotografia passar por uma nova consolidação de seu suporte tecnológico, tem provocado uma atenção especial à sua produção. Sua legitimidade como manifestação artística e cultural é indiscutível e podemos assistir agora em São Paulo uma verdadeira explosão fotográfica de qualidade inquestionável. É possível acessar exposições em que a fotografia, moderna e contemporânea, ocupa espaços nobres da cidade e provoca nossa imaginação. O século XX possibilitou a consolidação da fotografia graças aos artistasLeia Mais

Luiz Braga – ruptura e contemplação

Rubens Fernandes Junior | 15.ago.2010

Luiz Braga é um fotógrafo diferenciado dentro da produção visual contemporânea brasileira. Primeiro, porque basicamente trabalha apenas na sua cidade, Belém, e no entorno; e depois, porque ao longo de mais de trinta anos, desenvolveu uma fotografia com características próprias, totalmente diversas daquela produzida em outras regiões do país. Suas raízes e seu conhecimento da cidade viabilizaram uma fotografia marcante, centrada na cor e na luz, elementos determinantes na construção de sua sintaxe. Ele acredita que o território do olhar é o seu espaço interior e isto potencializa sua fotografiaLeia Mais
Há 20 anos, fui processado pela universidade em que estudava, a PUC-SP, por causa de algumas fotos que fiz. Mais precisamente, porque eles queriam essas fotos. Eu estava numa aula, no meu último ano do curso de jornalismo, quando correu a notícia de que um grupo de alunos ocuparia a reitoria em protesto contra o aumento das mensalidades. Fotografei tudo: a articulação do grupo, o arrombamento da porta, a entrada dos alunos que ficaram ali acampados durante 16 dias, com direito a show do Tom Zé. Vendi algumas imagens eLeia Mais

Multimídia tensa e multimídia relaxada

Ronaldo Entler | 18.abr.2010

Na semana passada tive uma boa conversa com o pessoal do Garapa, Leo Caobelli, Paulo Fehlauer e Rodrigo Marcondes. Eles contaram que, numa apresentação de seus trabalhos, alguém esbravejou afirmando que o que eles faziam não era multimídia, era apenas vídeo. A arte e a comunicação têm vivido nas últimas décadas um momento muito fértil, que convida a atravessar as fronteiras que separam uma linguagem da outra, uma técnica da outra. Daí vem a vocação para as produções que chamamos de multimídia. Reconheço nesse processo dois momentos distintos, um que tem aLeia Mais

O triste fim de Sophie Calle

Ronaldo Entler | 22.mar.2010

Ao acessar o portal UOL na manhã de ontem, reconheci numa pequena foto que ilustrava a seção “Comportamento” as figuras da artista Sophie Calle e de seu ex-namorado, o escritor Gregoire Bouillier. Ao lado da foto, um link em destaque: “Você muda de personalidade quando está namorando?”. Trata-se de um teste que, ao final de algumas perguntas, define o perfil da mulher em seu relacionamento. Até onde pude ver, nada sobre Sophie Calle. Para os que não acompanharam as notícias recentes (se é que isso foi possível), uma pequena apresentaçãoLeia Mais